Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

Onde estaremos a 5 de Outubro?

Por: Patrícia Silva

 As sondagens nada nos dizem sobre um tema incontornável nestas eleições: a abstenção. (...) Há, contudo, poucas razões para que os partidos se preocupem com esta questão. Como refere Wattenberg, a “saída” dos cidadãos da participação política não é necessariamente má para governantes: permite-lhes obter mandatos com menos votos. 

 

Ninguém poderá, por esta altura, estimar com elevado grau de certeza como será a nova composição do parlamento e o equilíbrio de poderes após as eleições legislativas que se aproximam. A julgar pelas sondagens, as eleições de 4 de outubro podem ser as mais renhidas da nossa democracia. É possível, contudo, que à medida que nos aproximemos da data das eleições, a diferença entre candidatos nas sondagens aumente. Eventualmente – e os recentes casos da Grécia e do Reino Unido ilustram-no bem – o voto nas urnas fechadas pode revelar um resultado bem díspar do previsto. Com efeito, é possível prever que o eleitorado comece a pensar onde quer estar no dia 5 de Outubro e pondere o modo como o seu voto pode ter consequências políticas.

 

A replicar-se o cenário das sondagens, que têm demostrado com relativa clareza que a maioria absoluta é quase inatingível nestas eleições, acordaremos no dia 5 de outubro para uma potencial crise de governabilidade, face aos difíceis entendimentos entre forças partidárias para fazer passar o programa de Governo e os orçamentos de Estado.

 

Mas as sondagens nada nos dizem sobre um tema incontornável nestas eleições: a abstenção. É sabido que, nos últimos escrutínios eleitorais, a taxa de abstenção tem registado aumentos consideráveis, tendo-se cifrado em quase 42 por cento nas últimas eleições legislativas, bem acima da percentagem de votos que os dois partidos do “arco da governação” arrecadaram. Em 2011, PS e PSD juntos agregaram apenas 38.7 por cento do eleitorado inscrito. São sinais inequívocos do profundo descrédito em que mergulharam as forças partidárias.

 

Há, contudo, poucas razões para que os partidos se preocupem com esta questão. Como refere Wattenberg (2000: 76), a “saída” dos cidadãos da participação política não é necessariamente má para governantes: permite-lhes obter mandatos com menos votos. O afastamento do eleitorado, permite aos agentes políticos ganhar maior autonomia e liberdade de acção, uma vez que implica menor responsabilização e prestação de contas ou, pelo menos, perante menos cidadãos.

 

O ciclo vicioso que daqui emerge é uma ameaça para a qualidade da democracia, na medida em que esta depende da participação dos cidadãos. Cidadãos distantes exigem menos informação por parte de governantes; mas menos informação acentua a tendência de afastamento e desafeição do eleitorado relativamente à política.

Mais importante do que identificar a origem deste padrão é corrigi-lo. Tornar processos políticos mais transparentes é uma forma de incentivar uma maior participação. Por exemplo, e a um nível básico (mas importante), tal transparência requer tornar o debate político mais claro para os cidadãos – adoptando, por exemplo, uma linguagem menos técnica e que tenha em conta a desigualdade de recursos (educacionais e económicos) da sociedade portuguesa.

 

As condições de governabilidade, a escolha dos pacotes de políticas públicas, e a manutenção da qualidade da nossa democracia alimentam-se (também!) do boletim de voto e não de sondagens. É o voto que vai determinar onde estaremos no dia 5 de outubro de 2015.

 

Patrícia Silva é politóloga e investigadora em Ciências Políticas do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro

publicado às 17:45

Por onde andou o país que agora aparece nas sondagens?

Por: Paulo Ferreira

 Não faço ideia se as sondagens que diariamente estão a ser publicadas estão mais ou menos certas ou redondamente erradas. Não sei - alguém sabe? - se os cerca de 20% de indecisos que aparecem nesses radares vão decidir a eleição a favor da coligação PàF ou do PS ou se, pelo contrário, vão preferir ficar em casa ou ir ver a bola.

 

Mas uma coisa eu sei: independentemente do resultado destas eleições, a partir de segunda-feira haverá trabalho para sociólogos, politólogos e encartados do género que queiram estudar o fenómeno.

 

Se os resultados contrariarem as sondagens e derem uma vitória aos socialistas, a tarefa vai ser explicar o falhanço dos estudos de opinião, como naquela piada que define economista como alguém que nos vai dizer amanhã porque é que aquilo que ele previu ontem não aconteceu hoje.

 

Mas este será o pequeno abalo, circunscrito a meia dúzia de técnicos e de técnicas. Haverá acusações de manipulação do eleitorado e algumas teorias da conspiração para apimentar a discussão. Nada que não se consuma em meia dúzia de dias. Até à próxima eleição e às próximas “tracking pools”.

 

O verdadeiro terramoto, com fortes réplicas nos planos político, social e mediático será o cenário oposto: as sondagens até se portam bem e a coligação de direita vence o PS com margem confortável.

 

Depois do que se passou nos últimos quatro anos nenhuma sociedade ultrapassa um desfecho desse tipo sem se deitar no divã.

 

Caem, de uma só vez, alguns mitos transformados em leis ao longo dos tempos.

 

O primeiro é que nenhum governo ganha uma eleição depois de uma crise profunda e de uma dose de austeridade como a que o PSD/CDS aplicaram nos últimos quatro anos. Cortaram salários e pensões, aumentaram brutalmente impostos e taxas, afrontaram interesses e não facilitaram no período eleitoral. Que país é este que reconduz um governo destes? Onde pára a sociedade do facilitismo e da ilusão dos almoços grátis que ainda em 2009 acreditou que o caminho acertado era gastar mais dinheiro e deu a segunda vitória a José Sócrates contra a austera Manuela Ferreira Leite?

 

Outro é que são os governos que perdem as eleições e não as oposições que as ganham. Frase feita e tantas vezes pronunciada, terá de conhecer uma nova versão a confirmar-se o cenário das sondagens. Este será um caso agudo em que é a oposição, no caso o PS, que perde uma eleição que só podia ganhar. É como falhar o golo com a baliza escancarada.

 

Mas, sobretudo, um tal desfecho não bate certo com a narrativa dominante que nos foi sendo contada ao longo dos últimos quatro anos na generalidade dos media, onde todas as contrariedades tinham uma origem concreta e definida: o programa da troika e o governo que o aplicou. De uma morte nas urgências aos buracos nas estradas, da confusão no arranque do ano escolar ao colapso do Citius, das falências de empresas ao aperto no crédito, a crise e a austeridade serviram para explicar tudo e mais alguma coisa. Como se ocorrências e fenómenos do género fossem até então caso virgem. Como se subitamente em 2011 tivessemos passado do país das maravilhas para um inferno sem par. Se chovia a culpa era da troika. Se o sol apertava demasiado, da troika a culpa era.

 

Claro que a crise teve um impacto económico e social forte, terrível para muita gente. Mas muitas dessas histórias de pobreza e desemprego, falhas nos serviços públicos e anemia económica podiam, infelizmente, ter sido contadas desde sempre no passado.

 

Ao lado destas, nestes quatro anos houve uma fatia importante de famílias que conseguiram manter padrões de vida e de conforto. Foram sobretudo os que, do sector privado, mantiveram os empregos e os níveis de remuneração e conseguiram acomodar o brutal aumento de impostos. Uma maioria que pouco ou nada apareceu nas notícias durante este período.

 

Politicamente, a narrativa dominante evoluiu depois para atribuir à suposta inabilidade de António José Seguro o facto de o PS não descolar nas sondagens e caminhar para uma maioria absoluta que, nesse quadro de desgraça económica e social generalizada, parecia lógica e natural. Até inevitável.

 

Com António Costa tudo seria diferente. Aparentemente, não foi. É preciso ir muito mais fundo nas análises, mais além do que os alegados erros na estratégia da campanha socialista, das trapalhadas dos cartazes ou do embaraço para explicar cortes sociais no segundo debate com Passos Coelho.

 

O país que agora responde às sondagens sempre esteve por cá. Não apareceu no radar dos media, mas a culpa não é desse país, que não se escondeu. Simplesmente não quisemos olhar para ele, como Helena Matos já notou

 

Pedro Magalhães ajuda-nos a perceber o que se passou recorrendo à série mais longa das sondagens, numa entrada no seu blogue que é de leitura obrigatória.

 

E eu acrescento este dado, divulgado esta terça-feira: confiança dos consumidores portugueses renova máximos de 14 anos. Sim, de 14 anos. Não temos ouvido falar destes consumidores que respondem aos inquéritos mensais do INE, pois não? Mas eles sempre existiram. E, pasme-se, também votam.

 

A seguir

  • "Ver televisão". Há 20 anos significava sentarmo-nos num sofa com um aparelho gordo à nossa frente, comando na mão à espera daquilo que os programadores tinham decidido que veríamos naquele dia, àquela hora, naquele canal. Depois o cabo democratizou-se e começámos a ter acesso a centenas de canais. Ao mesmo tempo, o vídeo fez o seu caminho na web e hoje é aí que as gerações mais novas fazem aquilo que nos habituámos a identificar como "ver televisão". Mais à frente passámos a ter a possibilidade de ver o programa que queremos à hora que queremos... mas só no prazo de sete dias. O caminho não acaba aqui. Os conteúdos - eu sei que a palavra arranha nos ouvidos de muita gente, mas encontram outra melhor? - começam a estar disponíveis onde queremos, quando queremos. E já não precisamos do tal aparelho gordo, que entretanto emagreceu, para ver as séries, os filmes, os documentários, os programas que queremos. Tudo legal e mais barato do que as assinaturas tradicionais de cabo num aparelho que está no seu colo ou mesmo no seu bolso. O primeiro desses serviços, o Netflix, está quase a chegar a Portugal. Fique atento a ele ou ao que o seu operador tem para lhe oferecer para tentar travar esta concorrência.

 

  • Boas notícias: vamos viver cada vez mais. Más notícias: mantermos a mesma qualidade e nível de vida vai sair-nos muito caro. Uma esperança: que os próximos governos, sejam eles quais forem, tenham a lucidez e a coragem para resolver o problema de forma gradual, transparente e sustentada. Tanto na Segurança Social como no desenho das nossas cidades.
publicado às 09:44

O imbróglio

Por: Francisco Sena Santos

 Esta campanha eleitoral portuguesa está desgraçadamente vazia de ideias e de futuro, empurra ainda mais para o desapego ao modelo que estes políticos usam para fazer política e segue enganadora. O primeiro equívoco na campanha é o seu fim: sendo que se destina, primeiramente, a eleger deputados, de facto quase ninguém sabe o que pensam os deputados a escolher. O que sobretudo nos aparece é a escolha entre Passos e Costa sobre qual deles vai ser o próximo primeiro-ministro. Passos esconde o que tenciona fazer e Costa não consegue convencer e explicar. Não espanta, mas desgosta, que a força com maior expressão no próximo domingo venha a ser a dos que não votam.

 

Quanto a ideias mobilizadoras em discussão na campanha, zero. Nicolau Santos resumiu com precisão o que se passa: “da direita à esquerda só se discute o PS” e o programa da coligação PSD/PP “não se discute porque não existe”.

 

Há omissões que, ao persistirem, nos deixam a pensar que esta campanha não é mesmo para levar a sério. Uma delas é a questão europeia. O que já penámos nos últimos anos mostra-nos a todos como o fulcro de muito da decisão política sobre a nossa vida está agora fora de Portugal, está sobretudo entre Berlim e Bruxelas. E, no entanto, dos candidatos a chefe do governo, nada ou quase nada sobre a União Europeia.

 

Ainda menos sobre política externa em geral, um domínio em que Portugal já soube jogar bem as cartas. Sobre a crise dos migrantes ou refugiados, nem uma ideia. Sobre a relação complexa com os países lusófonos, idem. Também o vazio total sobre a nossa vizinhança a sul e sueste, a bacia do Mediterrâneo e parte do centro e norte de África que são um vulcão em erupção, com países em implosão, fronteiras em deslocação, terroristas em expansão, máfias à solta, guerras e revoltas que se multiplicam e, em consequência desta tragédia, as migrações maciças para as quais estamos agora a despertar. Mas não se trata isto na campanha.

 

Nem sequer a articulação ibérica toma um minuto nos palcos dos que se propõem chefiar o próximo governo português, sendo que de Espanha sopra e está para soprar o vento de muita movimentação política: no próximo trimestre há eleições gerais (com a forte probabilidade de fragmentação do alinhamento partidário) e já está em cima da mesa o imbróglio catalão.

 

Neste domingo ficámos a saber que a intenção dos independentistas catalães de fazer nascer, em ano e meio, unilateralmente, um novo Estado republicano na Europa, esbarra na falta de votos. Os muito heterogéneos partidos independentistas ganharam as eleições para o governo catalão (têm 72 dos 135 deputados) mas, com apenas 47,75% dos votos, perderam o plebiscito testado. Os 52,25% de votos catalães dentro do campo constitucionalista espanhol são um fracasso para os republicanos independentistas. Mas o imbróglio está inflamado quando, numa comunidade autónoma que representa 20% do PIB espanhol e 15% da população de todo o reino, os cidadãos catalães estão tenazmente divididos em duas metades sobre a rutura com o Estado espanhol. Tem havido, de parte a parte, entre o governo de Madrid e o da Catalunha, demasiados egoísmos, intransigências, agravos e desprezos, em vez do necessário diálogo e procura de compromisso. E a coisa tem alastrado para a cidadania. O sistema político do reino de Espanha parece ter evoluído para gerar pequenas nações que se enfrentam com o seu nacionalismo em vez de cumprir a ambição de uma Espanha plural. Vai ser preciso que se entendam para que saiam da rota de colisão, tem faltado sabedoria política.

 

Há outros dados a reter ainda nestas eleições catalãs: houve uma causa, os eleitores sentiram-se mobilizados, votaram de modo maciço, 76,7% num mapa com mais de quatro milhões de recenseados; um partido, Ciudadans, fora do tradicional sistema PSOE/PP, com mensagem positiva, tornou-se alternativa para muitos eleitores PP, e passou de 7,5 para 19%, enquanto o PP caiu, na Catalunha, de 13 para 8,5%.  Há que ter em conta Inés Arrimadas, 34 anos, líder de Ciudadans na Catalunha. Também Albert Rivera, líder nacional de Ciudadanos em Espanha. Rajoy deve estar preocupado com a escalada deste movimento no centro-direita. Em contrapartida, à esquerda, Podemos, de Pablo Iglesias, parece perder fôlego.

 

VALE TER EM CONTA

 

O que diz Cebrián sobre o futuro do jornalismo: A internet está cheia de mentiras, calúnias insultos e estupidezes, tantas como às vezes dizem na vida real alguns políticos.

 

Também no El País, recuperar esta entrevista com António Lobo Antunes. Eterno citado para o Nobel.

 

Um debate notável na France 2, canal da televisão pública francesa: o primeiro-ministro Manuel Valls confrontado ao longo de duas horas e meia num debate que incluiu um civilizado frente a frente entre o ex-primeiro-ministro de direita François Fillon e o atual chefe do governo socialista. A espreitar também aqui.

 

John Boehner, speaker dos republicanos na Câmara dos Representantes dos EUA, anunciou a renúncia ao cargo, 24 horas depois de se ter emocionado a receber o papa Francisco. Deve estar farto dos ultras que crescem na direita republicana.

 

Paulo Sousa, depois de, como futebolista, ter sido bicampeão europeu de clubes, agora, como treinador da Fiorentina, foi a Milão ganhar, 4-1, e lidera o campeonato italiano. Tem um belo projeto, lê-se na Gazzetta dello Sport. Fiorentona!, exclama o Corriere dello Sport.

 

A melhor primeira página de hoje no SAPO JORNAIS. Escolho esta. Estará aí alguém, em Marte?.

publicado às 08:06

Isto não vai ser bonito

Por: António Costa

 

 Quem foi jornalista, nunca deixa de ser jornalista e Paulo Portas faz jus a esta regra. Inaugurou uma nova forma de fazer política, faz perguntas, de retórica, aos eleitores, algumas delas arriscadas, sobre políticos e sobre politicas: quem preferem para gerir as finanças, Maria Luís ou Centeno? Estará Portugal em altura de correr riscos? Falta a pergunta para a última semana de campanha: o que é que o PAF e o PS têm de fazer para ganhar as eleições de 4 de Outubro?

 

As sondagens e as ‘tracking pools’ dão vantagem à coligação, umas mais do que outras, mas também apontam um elevado número de ‘não sabe/não responde’ e mais de 20% de indecisos, seja em votar, seja em quem votar. É uma massa de eleitores que vai decidir quem será o próximo primeiro-ministro. Portanto, a coligação e o PS têm de afinar o discurso, as promessas políticas ficam para trás, as medidas e a estratégia também; agora, vamos entrar na semana da política pura e dura. E não vai ser bonito.

 

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas percebem que a sua margem de crescimento eleitoral está limitada pelo ‘partido do Estado’, os funcionários públicos, os pensionistas, que passaram a ter uma vida pior do que a que tinham. Era inevitável, simplesmente porque tinham uma vida financiada com dinheiro dos outros. Mesmo assim, para estes grupos, isso é irrelevante, e continuam zangados com os partidos do Governo, e muitos deles votaram no PSD e no PP em 2011.

 

Passos passou quatro anos a dizer que a distribuição dos sacrifícios estava a ser equitativa entre os setores público e privado, os cortes eram transversais a toda a sociedade. E foram, porque se houve cortes no sector público, houve muito desemprego no setor privado. Agora, em campanha eleitoral, está a corrigir o tiro. Porquê? Porque o crescimento da economia – o principal trunfo eleitoral - permite que o setor privado recupere parte dos cortes que sofreu, os salários começam a aumentar e o desemprego a cair. Mas ainda não chegou às contas do Estado, leia-se aos ‘militantes do partido do Estado’. É por isso que Passos e Portas falam agora para eles, voltam a prometer-lhes o céu. Ao centro.

 

António Costa tem uma margem de crescimento superior à da coligação, ao centro e à esquerda. E apesar de estar em perda consecutiva nas sondagens, entra com vantagem na última semana. Paradoxalmente, o universo potencial de eleitores é mais difícil de atingir, porque é preciso ter dois discursos, e nem sempre coerentes, para os eleitores que oscilam entre a coligação e o PS, por um lado, e os que estão entre os socialistas e os dois partidos à esquerda, o PCP e o BE, por outro. Por isso, varia entre os consensos e a estabilidade, um valor cativado pela coligação, e um discurso agressivo de rutura tão do agrado dos eleitores comunistas e bloquistas. Mas a verdade é que os votos que vão decidir estão ao centro, o que torna o PS igual à coligação. Mas a cópia é sempre pior do que o original.

 

Os dois blocos têm, no discurso, um ponto em comum: a maioria absoluta, já gasta de tão pedida, já descredibilizada, de tão improvável. Num vale tudo em que, sem resultados, há cenários para todos os gostos, até aquele que antecipa que os vencedores podem perder e passar à oposição. Importa-se de repetir? Esta semana, preparem-se, agarrem-se às cadeiras, a estrada vai estar cheia de solavancos, de toques e choques frontais. Até ao dia 4. Pelo menos.

 

Notas:

 

O "dieselgate" é uma vergonha para a VW, mas é muito mais do que isso. É uma vergonha para a indústria automóvel (só a VW é que usou estes esquemas para esconder o real impacto das emissões poluentes?), é uma vergonha para a Alemanha que dá lições de exigência aos outros países europeus, é uma vergonha para a Europa que dá lições de moral ambiental e de concorrência ao resto do mundo. O "dieselgate" ainda só agora começou, está quase tudo por decidir, e pode acompanhar aqui, no Sapo24 todas as últimas notícias. Fica, desde já, uma pergunta: é agora que os carros elétricos vão ter mesmo uma oportunidade?

 

O Barcelona vai deixar de jogar na liga espanhola? Não, ou melhor, ainda não. Os catalães foram ontem a votos, escolheram um novo parlamento, mas na verdade estavam a fazer um plebiscito à independência em relação a Espanha. E o resultado não foi muito clarificador. Os defensores da independência, entre moderados e radicais, estarão em maioria no parlamento catalão. Mas a Catalunha está dividida ao meio. Porquê? Porque os independentistas ganharam mais lugares, mas tiveram menos votos. E as eleições em Espanha são já em Novembro, por isso, os partidos do poder vão ter de apresentar uma solução para estes resultados, para a Catalunha e para o país que querem unido. Porque o vento não pode ser travado com os dedos. Pode ler no Público, e com destaque no Sapo24, os desenvolvimentos desta eleição.

 

Na próxima segunda-feira, aqui estarei outra vez no Sapo24. Com os resultados das legislativas, sim, veremos se com um novo governo.

publicado às 10:21

Queimar incenso é tão perigoso como fumar? Talvez...

Por: Pedro Fonseca

 

Uma análise a quatro tipos de incenso e a um cigarro parece mostrar que a inalação do incenso em ambientes fechados pode ser mais prejudicial do que o fumo do cigarro. Mas os próprios investigadores afirmam não o poderem demonstrar.

 Imagem: MAST IRHAM

 

 As partículas finas e ultrafinas do incenso queimado em ambientes fechados podem ter efeitos adversos na saúde, diz uma equipa de investigadores liderada por Rong Zhou, da South China University of Technology e da China Tobacco Guangdong Industrial Company. O trabalho "Higher cytotoxicity and genotoxicity of burning incense than cigarette" foi publicado no final de Agosto na revista científica Environmental Chemistry Letters e declara que o incenso tem muitos "componentes aromáticos, irritantes e tóxicos" que são mutagénicos - ou seja, de forma simples, podem alterar material genético como o ADN.

 

A genotoxicidade das quatro amostras de incenso revelou-se maior do que uma amostra de cigarro, sendo ainda mais citotóxicas em testes em células de salmonela e ovárias de ratos. Todos esses efeitos mutagénicos, genotóxicos e citotóxicos em células estão aparentemente ligados ao desenvolvimento de cancros.

 

Ingredientes tóxicos

 

O incenso é fabricado de vários materiais, sendo a madeira de ágar e de sândalo "dois dos ingredientes mais comuns". Juntas, as amostras de incenso testadas continham 64 compostos diferentes, com "ingredientes em duas das amostras conhecidos por serem altamente tóxicos".

 

Zhou e a equipa apontam que há cada vez mais estudos sobre a poluição do ar em ambientes fechados também porque mais pessoas ali passam mais tempo. "Apesar da queima de incenso ser uma das maiores fontes" desse tipo de poluição, a sua investigação tem merecido uma reduzida atenção por ser um fenómeno regional, ocorrendo "em muitas famílias e na maioria de templos na Ásia por razões religiosas e pelo seu cheiro agradável". Quando queimado, o incenso liberta partículas que podem ser inaladas. Estudos desde 1977 demonstraram que a sua queima está correlacionada com potencial cancro de pulmão, leucemia infantil e tumores cerebrais.

 

Os investigadores chineses, no entanto, declaram que não se pode dizer "simplesmente que o fumo do incenso é mais tóxico do que o fumo do cigarro devido às diferenças de estilo no consumo destes produtos" - também pela pequena base de análise, enorme variedade de paus de incenso à venda e diferenças no seu uso em relação ao cigarro. Mas este estudo pode servir de base para investigações futuras sobre o incenso, dizem. O alerta de pouco serviu, com jornais como o britânico Daily Telegraph a apelarem para que o incenso tenha um rótulo de perigoso, como sucede no tabaco.

 

Relações perigosas

 

No site do sistema nacional de saúde do governo britânico, o estudo foi analisado, notando-se à partida que dois dos investigadores (incluindo Zhong) trabalharam para a empresa tabaqueira da China ("o que "levanta suspeitas sobre a imparcialidade da investigação") e que não há indicação da origem do financiamento da investigação.

 

A associação à indústria tabaqueira é "do interesse desta", para levar "as pessoas a pensar que o fumo do cigarro e a queima do incenso são equivalentes - o que não é o caso", refere. "O incenso não é fumado e assim não é directamente levado para os pulmões da forma como o fumo do tabaco é, pelo que os efeitos nas células pulmonares podem ser muito diferentes", diz o texto do NHS, mas qualquer queima de produtos em ambiente fechado - seja incenso, carvão ou tabaco - "produz fumo que pode irritar e danificar os pulmões". Relativamente ao estudo, salientam que "o fumo do incenso era tóxico em concentrações mais baixas do que o fumo do cigarro".

 

"A sugestão de que o fumo do incenso pode ser mais prejudicial do que o fumo do cigarro necessita de ser tratada com cuidado", nota o NHS, tanto mais que "a investigação com células animais em laboratório não é a mesma que a investigação em seres humanos", nomeadamente com "substâncias em forma diluída no ambiente".

 

Evidências anteriores

 

O mesmo NHS analisou, em 2008, um outro estudo relativo ao fumo do incenso e o risco cancerígeno. O mesmo baseava-se em dados obtidos num anterior estudo sobre hábitos de dieta e nutrição no desenvolvimento do cancro, que durou de 1993 a 1998, sendo retomado com dados até 2005, e envolveu mais de 61 mil chineses de Singapura entre os 45 e os 74 anos.

 

A conclusão foi a de que o incenso continha químicos que podiam potenciar o cancro, nomeadamente nas vias respiratórias, tendo afectado cerca de 1.300 pessoas, dizia o estudo "Incense use and respiratory tract carcinomas", financiado pelo National Cancer Institute norte-americano e publicado na revista Cancer.

 

No entanto, salientava-se que os participantes dos estudos que "actualmente ou antes usaram incenso não tiveram um risco aumentado de cancro respiratório comparados com pessoas que nunca o usaram". Em Portugal, em 2013, também a Deco alertou para o uso de incenso, pela "presença de substâncias nocivas para a saúde".

 

A associação defendia a remoção de quatro marcas de incenso por conterem benzeno e formaldeído, “duas substâncias reconhecidas pelos seus efeitos cancerígenos”. E já então era efectuada a ligação ao tabaco: “um só pau de incenso pode emanar benzeno em quantidade equivalente à de cinco cigarros”, afirmava a Deco.

 

Em resumo, e seguindo a recomendação ao Daily Mail de Nick Hopkinson, médico conselheiro da British Lung Foundation, pessoas com problemas de pulmões ou em ambientes domésticos com crianças devem evitar a queima de incenso.

 

"Eu não quero que as pessoas concluam que o fumo do cigarro é tão inofensivo como queimar incenso. O estudo [de Zhong] não é inovador, é mais uma confirmação de que diferentes tipos de fumos, incluindo o de incenso, são tóxicos", declara Hopkinson.

publicado às 18:05

Quem diz é quem é: Alemanha, marca de confiança

Por: Rute Sousa Vasco

 

 A Volkswagen pode ameaçar mais a economia alemã do que a dívida grega.

Há toda uma sequência de números e de factos extraordinária.

O karma é tramado. 

 

 

 

 

 

Em 2014, a Volkswagen vendeu quase 600 mil carros nos Estados Unidos. Essas vendas representaram cerca de 6% das vendas globais da marca alemã. As exportações de carros valem à Alemanha cerca de 200 mil milhões de euros. Um quinto das exportações totais. Na Alemanha, 775 mil pessoas trabalham na indústria automóvel. Quase dois por cento da força total de trabalho.

  

Na semana passada, a Agência de Protecção Ambiental nos Estados Unidos ordenou que fossem retirados do mercado cerca de 482 mil Volkswagens devido à detecção de um software fraudulento que simulava as emissões de gases nos veículos a diesel. O software, conhecido como “defeat device”, enganava os valores de poluição. Sem o software usado nos testes de controlo, os carros da marca alemã poluiam 10 a 40 vezes mais. Este software foi colocado em carros vendidos entre 2009 e 2015.

 

Por causa de tudo isto, a Volkswagen pode enfrentar multas no valor de 18 mil milhões de dólares nos Estados Unidos. Nada que não possa pagar – é uma companhia de contas robustas, à alemã, que gerou em 2014 cerca de 24 mil milhões de dólares de cashflow.

 

Os mercados não gostaram e na segunda-feira, dia 21 de setembro, as acções da Volkswagen caíram cerca de 23% na praça de Frankfurt, perdendo 15,6 mil milhões de euros.

 

Os analistas também ficaram preocupados. A economia alemã tem uma forte dependência do sector automóvel e as perdas da Volkswagen podem colocar em causa o crescimento previsto de 1,8% para 2015. Depois do abrandamento na China, acontece isto e os analistas abanam a cabeça, preocupados. Não é bom.

 

“De um momento para o outro, a Volkswagen tornou-se um maior risco de desacelaração para a economia alemã do que a crise da dívida grega”. Disse o economista-chefe do ING à Reuters. O ING é um grupo financeiro de origem holandesa, um dos nomes de referência no mercado global e europeu. Joerg Kraemer, economista-chefe do Commerzbank, não acredita que toda a indústria automóvel alemã seja posta em causa por causa da VW, mas admitiu, também à Reuters, que pode haver um efeito dominó de erosão da marca de confiança “made in Germany”. O Commerzbank é um grupo financeiro de origem alemã e um dos nomes de referência no mercado global e europeu.

 

Na quarta-feira, Martin Winterkorn, CEO da Volkswagen desde 2007, apresentou a sua demissão. Os problemas da marca nos Estados Unidos vieram a público na semana em que renovava o seu contrato. Poderá ter direito a uma pensão de 28,57 milhões de euros e a 3,2 milhões de euros de indemnização. São números apurados pelo Financial Times e pela Bloomberg a partir do salário anual de 1,617 milhões de euros declarado nos relatórios da Volkswagen.

 

É uma sequência de números e de factos extraordinária.

 

Uma sequência por onde passam aqueles temas que se tornaram tão familiares nos últimos anos. Globalização, mercados, confiança, batota, moral, responsabilidade. O mundo era tão mais simples dividido entre os bons, de boas contas, e os maus, que fazem batota. Se calhar somos todos mais parecidos do que diferentes. Às vezes bons, às vezes nem por isso.

 

Karma is a bitch.

 

Tenham um bom fim de semana!

 

Leituras sugeridas:

 

O editor de Economia da BBC e autor do documentário “Como a China enganou o mundo” escreve sobre o ‘novo normal’ naquele país. Vem a propósito e vale a pena ler.

 

Sem a Catalunha, a Espanha não seria a Espanha. É o que se escreve neste artigo do El País, assinado por Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, a escassos dois dias de umas eleições regionais que podem abanar toda a União Europeia. Já começamos a ficar habituados a isto, são tempos interessantes os que vivemos.

 

 

 

 

publicado às 10:17

Preso por ter cão… e por não ter

Por: Pedro Rolo Duarte

Esta semana, o The Daily Show, de Jon Stewart, venceu o Emmy for Outstanding Variety Talk Series. A colecção de Emmys ganha pela série “Guerra dos Tronos” foi muito mais falada do que este prémio - o que não espanta, claro -, mas vale a pena sublinhar este facto para o universo televisivo nacional, porque reflecte algo que nos parece sempre esquisito: um programa estar no ar tanto tempo…

 

O The Daily Show durou 16 anos. Se fosse em Portugal, era um fenómeno: 16 anos no ar, facto absolutamente normal por esse mundo fora (quando falamos de programas de sucesso, com estrutura sólida, estruturada, e audiência fixa), seria entre nós motivo de debate, critica reclamação. E penso nisto quando leio as críticas que têm sido feitas ao regresso de Ricardo Araújo Pereira - queira ou não usar-se o nome Gato Fedorento, ainda que amputado de um membro - no programa “Isto é tudo muito bonito, mas” (TVI, diariamente às 21:00). O que todos os que gostam daquele grupo de humoristas desejavam era que eles não defraudassem nem mudassem o seu registo - e foi isso que eles fizeram. Bem.

 

Pois é justamente esse o argumento crítico para dizer mal do programa. Que é de novo o mesmo registo. Que não inova. Que não mudou. Se porventura tivesse mudado, teríamos um coro de críticas a pedir o regresso dos “antigos” Gatos - como não mudou, temos a mesma critica virada do avesso. Presos por ter cão, presos por não ter.

 

Confesso: tenho cada vez menos paciência para esta atitude bem portuguesa de pedir mudança mesmo quando não é desejada. Uma espécie de inveja mal disfarçada que se vinga na crítica fácil.

 

Eu gosto do programa da TVI exactamente porque não defrauda o gosto que já tinha nos programas anteriores daquela equipa. Podem estar 16 ou 20 anos no ar - porque esse deveria ser, em televisão, o caminho de quem faz bem o que se propõe fazer.

 

Jon Stewart parecia que falava para Portugal quando recebeu o prémio: "A todos os que trabalham em televisão, só quero dizer-vos, agarrem-se o mais que puderem". Eu diria o mesmo ao Ricardo e à sua equipa: agarrem-se e não mudem. Os que vos querem diferentes são os que não vos querem no ar.

 

Coisas que me deixaram a pensar…

 

Por que raio a excelente revista espanhola Tapas, que tem vindo a inovar a abordagem dos media ao mundo da gastronomia e da restauração, e que aqui ao lado custa 4 euros, chega a Lisboa atrasada, a 10 euros, e em inglês…

 

Arturo Pérez-Reverte recebeu há poucos dias o Premio Colunista do El Mundo, numa cerimónia dedicada ao jornalismo espanhol. Para lá da cobertura do jornal, o discurso de Pérez-Revert, sublinhando que a imprensa livre é ainda o último dos medos dos poderosos, merece leitura atenta…

 

Para quem desconfia, ou evita, a ideia de “sociedade civil”, eis um bom exemplo que desfaz dúvidas: o Expresso conta como chegou à Sérvia uma generosa quantidade de bens, reunidos a partir de uma ideia modesta no Facebook. Aplausos.

publicado às 09:50

Ganhar é muito bonito, mas...

Por: Paulo Ferreira

 

Aos políticos em campanha exigimos, e bem, que sejam claros e verdadeiros, que não se escondam atrás da retórica para evitar dizer ao que vêm, que não prometam o que não podem ou não fazem questão de cumprir, que nos digam como e para que querem governar.

 

Pedimos as contas que medem o impacto orçamental das medidas que propõem e queremos saber com que cenário macroeconómico estão a trabalhar. Nalguns casos, até queremos saber que ministro das Finanças é que têm na cabeça e com as eleições presidenciais logo ao virar da esquina, estamos todos curiosos para saber quem vão apoiar nessa corrida.

 

Mas, estranhamente, conseguimos viver muito bem sem um dado fundamental: se ganharem sem maioria parlamentar, como pensam governar o país? Avançam para uma governação equilibrista de mínimo múltiplo comum, procurando apoios lei a lei e contando com abstenções calculistas ou interesseiras? Recusam esta luta diária pela sobrevivência e entregam o assunto ao Presidente da República? Ou vão procurar uma aliança estável com outras bancadas parlamentares? Quais?

 

A questão da governabilidade coloca-se nesta eleição mais do que nunca

 

Primeiro, porque as sondagens teimam em apontar para uma indefinição quanto ao vencedor. Há um ano os cenários eram sobre o tamanho da vitória do PS e se conseguiria ou não chegar à maioria absoluta. Neste momento, a grande surpresa será que alguém consiga aproximar-se dessa maioria absoluta.

 

Depois porque, mais do que em qualquer outro momento das duas últimas décadas, a situação do país não está para instabilidades nem incertezas políticas. Os juros baixos com que o Estado se tem financiado nos últimos meses podem acabar rapidamente se entrarmos num impasse governativo.

 

Por fim, porque a realização da eleição presidencial no início do próximo ano cria um longo período em que os instrumentos constitucionais à disposição do actual e futuro inquilino de Belém são muito reduzidos. Cavaco já não pode dissolver o Parlamento por estar no último semestre de mandato e o seu sucessor também não pode fazê-lo durante os primeiros seis meses de exercício do cargo.

 

O que é estranho é que perante esta potencial tempestade perfeita, vamos convivendo bem com o absoluto silêncio dos principais candidatos em relação às suas soluções de governo.

 

Contentamo-nos com os chavões estafados do género “não ponho outra hipótese que não seja vencer as eleições” ou “não comento cenários”. Como se a possibilidade de uma derrota fosse uma anormalidade democrática ou um programa eleitoral não fosse, no essencial, um trabalho de cenários.

 

Argumenta-se que falar sobre uma política de alianças pós-eleitorais pode ser desmobilizador dos exércitos partidários e eleitorais. A sério? Vá lá, já nem o menos astuto dos treinadores de futebol utiliza essa psicologia de algibeira. Vamos assumir de uma vez por todas que os eleitores não são criancinhas nem mentecaptos? E que até podem valorizar o realismo e modéstia que significam a admissão de uma derrota?

 

É fundamental perceber como vão Pedro Passos Coelho ou António Costa governar preferencialmente se ganharem sem maioria absoluta. Como vão fazer aprovar o próximo Orçamento do Estado? Como vai passar o programa do Governo no Parlamento?

 

Ou, em caso de derrota, se estão dispostos a viabilizar um governo do adversário e sujeito a que “linhas vermelhas” que recusam ultrapassar.

 

Sobre estas questões essenciais - relevantes também para aferir do sentido de Estado dos protagonistas - pouco ou nada sabemos. Sabemos apenas que António Costa não viabilizará um Orçamento do próximo ano do PSD/CDS, caso a coligação vença. E de Passos conhecemos há muito a sua intenção de procurar entendimentos para a reforma da Segurança Social.

 

Mas e o resto? Ganhando sem maioria como pretende governar o PS? Vai procurar entendimentos com o PCP e o Bloco de Esquerda? Ou, apesar de dizer o contrário - a tal psicologia básica do “só admito ganhar com maioria” -, vai procurar apoio ao partido que lhe está mais próximo, o PSD? Vai antes tentar entender-se com o CDS?

 

E Passos e Portas? Chamam o PS para uma trégua? Ou governam sem maioria, já que um entendimento com os partidos mais à esquerda nem teoricamente parece possível?

 

Algumas desta soluções estão tão distantes entre elas como o dia da noite. E, no entanto, são cenários verosímeis para a noite do dia 4 de Outubro.

 

Mas é na mais absoluta cegueira em relação às alianças preferenciais das duas maiores candidaturas que os eleitores vão decidir o seu voto. É lamentável, porque este é um dado essencial no contexto em que esta eleição está a decorrer.

 

E, com elevada probabilidade, na noite do dia 4 de Outubro não estaremos apenas a discutir quem ganhou e porque ganhou. Mais importante do que isso será perceber o que vai o vencedor fazer com aquela vitória.

 

Para além da campanha

 

Com a inauguração das "tracking pools" - inquéritos regulares repetidos junto da mesma amostra de pessoas para tentar aferir a evolução da opinião do universo - as sondagens estão a ser um dos protagonistas incontornáveis desta eleição. E, já se sabe, são um teste do algodão à honestidade intelectual de muita gente: se elas fornecem resultados a favor, são instrumentos sérios de avaliação do sentimento dos eleitores; se apontam para resultados desfavoráveis, são mal feitas, com amostras pequenas e tecnicamente incomptentes. À margem da espuma eleitoral é obrigatória a leitura do artigo de Pedro Magalhães, sobre a forma como tomamos o pulso à opinião pública

 

Os políticos sabem como é: a reputação demora uma vida a fazer-se mas perde-se num dia. A Volkswagen é o mais recente exemplo disso mesmo, depois de ter feito batota na medição das emissões poluentes dos seus automóveis. As multas vão ser caras mas pior do que isso é o rombo na imagem de uma das marcas automóveis mais consistentes. As culpas já estão assumidas. Agora vamos ver se temos aqui um "case study" na gestão da crise. 

 

A eleição mais importante para a Europa não é a nossa. É a da Catalunha, que se realiza este domingo. Com os independentistas à frente nas sondagens, a caixa de Pandora pode abrir-se. Não está fácil a vida em Madrid.

publicado às 09:39

Sondagens: fazer as perguntas certas

Por: Pedro Magalhães

 

 Ao longo dos últimos quatro anos, teria sido importante saber o que pensam os portugueses sobre temas como a Troika, o emprego, as exportações ou a pobreza. Não é que faltem opiniões por aí. Somos continuamente bombardeados com elas, dadas por políticos, comentadores, analistas, especialistas e cidadãos mais ou menos anónimos, através dos jornais, da televisão, da rádio e das redes sociais. Mas, quase por definição, estas opiniões pessoais são uma má base a partir da qual inferir o que pensam os cidadãos em geral. Se as sondagens cumprem funções úteis numa democracia – uma questão controversa, bem sei – a mais útil de todas será precisamente a de nos ajudar a conhecer as preferências e opiniões daqueles que não conseguem fazer ouvir a sua voz por outros meios.

 

O que sabiam os portugueses sobre as principais medidas do chamado “Memorando de Entendimento” com a Troika, que condicionou as principais opções governativas durante grande parte da legislatura que agora termina? O que pensavam sobre essas medidas, e como evoluiu essa opinião? Como mudou, mês a mês, ao longo dos últimos quatro anos, a sua percepção sobre o estado da economia? O que sabiam os portugueses sobre os dados do crescimento económico, da evolução do desemprego, das exportações, da desigualdade ou da pobreza? De onde e como lhes chegou essa informação? Que importância lhe deram? Que responsabilidades foram atribuindo ao governo presente, a governos anteriores ou a outros actores? O que se pensava em Portugal sobre as principais medidas orçamentais que foram escrutinadas pelo Tribunal Constitucional? Que opiniões tiveram os eleitores, nos últimos quatro anos, sobre a actuação do governo nos domínios da saúde, da educação, da política económica, da justiça, da política externa ou da ciência? E sobre as alternativas apresentadas pelos partidos da oposição? Que sabem sobre a situação da segurança social e sobre possíveis opções para a sua reforma? Que partidos julgam melhor representar as suas preferências e valores? E mais importante: como é que tudo isto foi variando por idade, instrução, rendimento, orientação ideológica ou simpatia partidária, por exemplo?

 

Ao longo dos últimos quatro anos, teria sido importante saber as respostas a estas e muitas outras questões semelhantes. A aproximação das eleições torna-as ainda mais importantes. Quando chegarmos a 4 de Outubro, será muito difícil explicar os resultados eleitorais sem saber a resposta a muitas delas. Vaticino que a maioria dirá que os resultados eram afinal previsíveis, procedendo de seguida à explicação segura e conhecedora dessa completa previsibilidade. Mas essas explicações seriam mais sólidas se tivéssemos tido, ao longo destes quatro anos, a possibilidade de acompanhar a opinião pública portuguesa de forma mais profunda e sistemática do que realmente tivemos.

 

Não foi por causa de uma qualquer impossibilidade técnica ou metodológica que ficámos privados dessa informação. Quem quiser saber como os americanos vêm avaliando de forma diferenciada a actuação do Presidente Obama nos domínios da saúde, da economia, ou da política externa, por exemplo, poderá clicar nos links anteriores. Poderá aí saber a posição dos americanos sobre alguns dos principais temas políticos do dia, tais como o controlo da venda de armas, a imigração, as relações raciais ou a desigualdade de rendimentos. Terá uma visão não apenas do que pensa a população em geral, mas também de como todos estes assuntos a dividem, ao longo do tempo, por grupos definidos pela idade, o rendimento, a educação, o local onde vivem, a etnia, a ideologia e a simpatia partidária. Poderá apreciar a distância entre os dados da economia “objectiva” e a maneira como é apercebida pelos cidadãos e vivida pelas famílias. Poderá saber onde os indivíduos recolhem a informação que usam para avaliar os políticos, como escolhem essas fontes e como elas, por sua vez, reforçam ou modificam as suas predisposições. Obviamente, em todos estes e muitos outros possíveis exemplos, colocam-se dúvidas metodológicas, sobre diferentes maneiras de medir estas atitudes e comportamentos, a maneira de formular as questões ou a amostragem e seus critérios. Mas o ponto é que esta informação está disponível e resulta de “sondagens”.

 

E em Portugal? Aqui, à parte os inquéritos académicos ou o Eurobarómetro, sem dúvida relevantes mas realizados muito espaçadamente, as sondagens encomendadas e divulgadas pelos meios de comunicação social sofrem de uma quase permanente monomania em torno de intenções de voto e popularidade de líderes político-partidários. É certo que há, ocasionalmente, excepções. Como aqui ou aqui, onde se colocaram questões sobre grandes opções de política fiscal. Ou aqui, aferindo-se desejáveis prioridades de actuação de um novo governo e decompondo as respostas por grupos de inquiridos. Contudo, este esforço é episódico, impedindo a detecção de mudanças ou continuidades ao longo do tempo. Está frequentemente colado, na maneira como as questões são colocadas, a notícias concretas e irrepetíveis (“A Ministra das Finanças afirma que temos os cofres cheios, concorda?”), não apontando para a detecção de preferências e atitudes relevantes ou estáveis. As variáveis que permitiriam desagregar as respostas por grupos, definidos por características sócio-demográficas ou políticas, estão muitas vezes ausentes dos questionários. E mesmo quando existem, essa decomposição é, na maior parte das vezes, ignorada pelos próprios órgãos de comunicação social que encomendaram a sondagem, seja porque preferem retratar um agregado cuja “opinião” é na verdade inexistente (“os portugueses”) ou porque não têm jornalistas capazes de decifrar as implicações desse tipo de análise. E em geral, as potencialidades do online no arquivamento e visualização do histórico destes resultados e da sua análise mais fina, exemplificadas aqui ou aqui, são quase completamente ignoradas.

 

Porquê? A resposta mais fácil e óbvia, e não por isso menos verdadeira, tem a ver com recursos. Mercados pequenos e órgãos de comunicação social em crise geram, inevitavelmente, sondagens baratas e concentradas na supostamente fundamental “corrida de cavalos”. Serão, logo, muito menos completas e interessantes – para já não dizer menos metodologicamente robustas – do que aquelas que os responsáveis técnicos dos centros poderiam fazer com outras condições. Redacções emagrecidas, com jornalistas assoberbados de trabalho e incapazes de se especializarem, resultam num tratamento superficial dos resultados, numa baixíssima utilização das possibilidades fabulosas que hoje existem de tratamento e apresentação dos dados e numa reduzida exigência em relação às empresas. Por outro lado, não temos um equivalente ao Centro de Investigaciones Sociológicas espanhol nem ao Pew Center americano, alternativas, respectivamente, estatal e non-profit aos media privados na encomenda de estudos de opinião. E poderíamos continuar por aqui.

 

Contudo, suspeito que os problemas de recursos se foram transformando num problema mais geral de mentalidade, que torna as coisas piores do que teriam de ser. As sondagens e os seus resultados são, na comunicação social portuguesa, quase exclusivamente tratados como meros geradores de itens noticiosos entre muitos outros. Essas “notícias” são por vezes inexistentes do ponto de vista factual (“subiu 0,3%”), mas isso não impede que criem “eventos políticos” que podem ser “analisados” nos painéis nocturnos dos canais de notícias 24 horas, para serem depois esquecidos passados dois ou três dias. Alimentados nesta dieta noticiosa em que as sondagens são utilizadas meramente como parte de uma horse race coverage, somos todos condicionados a colocar sempre o mesmo tipo de perguntas sobre as sondagens. Porque estão uns partidos ou candidatos à frente numas e outros noutras? A quem beneficiam estes resultados? Se beneficiam, foram manipuladas para esse fim? Acertaram? Se não “acertaram”, quem as manipulou para não acertarem? E por aí fora. Nem todas estas dúvidas são idiotas. Algumas são relevantes, apesar de serem colocadas quase sempre com intuitos políticos mais ou menos evidentes. E são todas filhas deste ambiente geral e, por isso mesmo, perfeitamente compreensíveis.

 

Contudo, devíamos também ser capazes de colocar outra pergunta. Apesar dos poucos recursos, terão mesmo de ser tão superficiais e desinteressantes as sondagens que se fazem em Portugal e, logo, tão superficial e desinteressante a cobertura que geram? Lidar com este problema é do interesse de todos. Se as sondagens servirem apenas para analisar a “corrida de cavalos”, o discurso estritamente politizado sobre elas acabará, mais tarde ou mais cedo, por se tornar absolutamente hegemónico: está demasiado em jogo. Mas se isso acontecer, aqueles que fazem as sondagens e aqueles que as analisam acabarão por ser vistos como parte desse jogo e, logo, descredibilizados como fontes de informação relevante.

 

É isto que importaria impedir. A “corrida de cavalos” fará sempre parte do interesse e do “picante” das sondagens, não tenhamos ilusões. Mas nas sondagens que já se fazem em Portugal, há muitos outros dados e factos sobre o eleitorado e a opinião pública que não são suficientemente valorizados por quem as encomenda e, assim, permanecem ocultos para todos. Não sendo susceptíveis de serem usados para ganho político imediato, são apesar disso muito relevantes. E como espero ter mostrado com os exemplos anteriores, há muitas coisas que não são perguntadas e analisadas que o poderiam ser, sem grandes custos acrescidos. Bastaria um pouco de imaginação, atenção e saber. Teríamos assim uma visão mais profunda do que pensam e querem os eleitores portugueses, daquilo que os une e os divide, e porquê. E uma visão mais profunda do que são as sondagens e para que servem. Se as sondagens podem fazer qualquer coisa de positivo pela democracia, será mais por aqui do que pela obsessão exclusiva com as intenções de voto ou com os termómetros de popularidade.

 

Pedro Magalhães é investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Director Científico da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Faz investigação da área do comportamento eleitoral e da opinião pública, e foi director do Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica até 2009. Autor do livro Sondagens, Eleições e Opinião Pública.

publicado às 10:35

A infeção

 Por: Francisco Sena Santos

Estamos disponíveis para partilharmos a mesa em convívio com um homem que é um ditador? Aceitamos que uma criatura que cancela as liberdades faça parte do clube com o qual nos identificamos e ao qual queremos pertencer? O homem é Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria e representa o primado da incivilidade na Europa. O clube é a União Europeia.

 

Orban é a criatura que está, com intolerável brutalidade, a fechar a porta aos refugiados, a colocar os migrantes como criminosos, num triste espetáculo que nos repugna a todos. O percurso deste Orban, agora com 52 anos, é uma história de contínua transgressão de básicos princípios democráticos. Já quis reintroduzir na Hungria a pena de morte. Promoveu medidas intimidatórias da liberdade de expressão e dos media, submetendo as rádios, as TVs e os jornais a controlo administrativo, isto é, censura. São conhecidas as suas pressões sobre juízes, o desprezo por homossexuais, a hostilidade com as minorias étnicas. A prática política de Orban nutre a xenofobia.

 

Consegue, apesar disto, seduzir o eleitorado húngaro que se rende ao carisma deste chefe. Líder do partido ultraconservador Fidesz, arrasa em sucessivas eleições, foi primeiro-ministro da Hungria entre 1998 e 2002, agora está em funções desde 2010. Orban interpreta o sentimento de ampla parte da população húngara bombardeada com mensagens que alertam para a ameaça à unidade da nação húngara com “a invasão de muçulmanos” capaz de inquinar a tradição cristã do país. O fantasma da “invasão inimiga” rende-lhe apoios e votos.

 

Gente como Orban tem posto a Europa à beira da bancarrota política.

 

Perante as emergências, as democracias europeias que foram capazes de ser altruístas no tempo da guerra fria (os europeus acolheram de braços abertos uns 300 mil refugiados húngaros quando, em 1956, os tanques soviéticos entraram em Budapeste) ou da reunificação alemã, agora, vacilam.

 

Na implosão da Jugoslávia, nos anos 90, a Europa tardou demasiado a agir e testemunhou as mais horríveis matanças em solo europeu desde o tempo da II Guerra Mundial. Uma liderança mais sábia e ágil poderia ter evitado tanto massacre, de Sarajevo ao Kosovo. Acabou por intervir com eficácia, mas depois de tanta vida perdida.

 

Neste último ano da crise grega o Euro esteve à beira de colapsar. Foi salvo depois de tanto tempo perdido e tanta amargura na vida de tanta gente.

 

Agora é Orban e outros como ele que aspiram pôr fim à Europa sem fronteiras de Schengen. Não pode consegui-lo. Porque a liberdade total de circulação entre os países, incluindo o programa Erasmus, é, para os cidadãos, a par da moeda única, o sinal mais concreto de existência da União Europeia.

 

Será que a União pode ter no seu interior criaturas, como Orban, que não querem respirar o espírito de liberdade, de humanismo, de justiça, de democracia e de solidariedade que são a alma fundadora da União Europeia?

 

No ano 2000, quando o xenófobo ultranacionalista Jorg Haider foi admitido no governo de Viena, os outros 14 Estados membros (então, a Hungria ainda estava em lista de espera para entrar no clube europeu) reagiram sem tibiezas e impuseram sanções políticas e diplomáticas à Áustria. Foram suspensos todos os contactos oficiais entre os países da União e o governo de Viena e os austríacos chegaram a ter suspenso o seu acesso às reuniões europeias. Haider, entretanto falecido, se o compararmos com Orban, quase aparece como um democrata.

 

Como é possível que os dirigentes europeus fiquem de braços cruzados perante esta continuada infeção húngara dentro da União? O que está a acontecer é uma vergonha para todos. Inaceitável.

 

Está evidenciado que é urgente que se abra a discussão sobre o que quer ser a Europa. Imprescindível e urgente.

 

VALE SEGUIR NOS PRÓXIMOS DIAS

 

O Papa Francisco, depois de abraçar Cuba (há quem diga que, apesar da subtileza papal, esta presença não teve o impacto da histórica visita de João Paulo II com o voto de que Cuba se abrisse ao mundo e o mundo se abrisse a Cuba), discursa amanhã no Congresso dos Estados Unidos (é a primeira vez de um papa na casa da democracia dos EUA) e depois de amanhã perante a Assembleia Geral da ONU. Há que ouvir com atenção e aqui temos um guiaaqui outro e aqui ainda um outro. O primeiro Papa que escolheu o nome de Francisco é, todos sabemos, um Papa que pensa e combate pelas pessoas. Tem dentro dele uma essencial energia revolucionária que traz a igreja para o mundo moderno. Tem a palavra certeira e justa, como também se vai ouvir na ONU.

 

A Catalunha vota no domingo em eleições autonómicas que são um teste à vontade independentista da mais pujante região ibérica. Quantos dos sete milhões e meio de catalães vão votar no domingo? Se a vitória dos independentistas for robusta, que efeito vai ter numa Espanha que rejeita qualquer separação? Estão aqui algumas chaves para entendermos o que está em causa.

 

Os dados das sondagens continuam a falhar a previsão de resultados eleitorais. Depois do Reino Unido, agora na Grécia. Tsipras, equilibrista mestre em estratégia política, soube levar o Syriza à vitória. Os eleitores gregos viram o Syriza como um mal menor perante os cenários de cedência da nova Democracia aos diktats do poder financeiro euroamericano. Fica para saber como vai Tsipras lidar com as nuvens negras que tem no horizonte.

 

O que nos dizem as sondagens portuguesas? A coligação de direita aparece na frente na tracking poll da Intercampus e na do CESOP. Vale sempre ler a análise de Pedro Magalhães.

 

PARA SEMPRE

 

Conheci e fiz-me amigo de um transmontano da melhor cepa, sábio amante de poesia, extraordinário editor de livros, ele foi a alma que deu grande corpo à Assírio & Alvim. Falo de Manuel Hermínio Monteiro, amigo dedicado a tantos que o estimavam. Os abraços deste homem de afecto e inteligência eram rijos e únicos. Ele sabia como ninguém entender os seus escritores. O Hermínio morreu há 14 anos, penso nele tantas vezes. Lembrei-me dele, mais uma vez, ao saber da morte de Vítor Silva Tavares, o editor resistente da &etc, um homem que nos pôs a ler livros (de Adília Lopes a Rilke) que logo ao primeiro olhar se sabia serem da &etc. Vale regressar à evocação de Vítor Silva Tavares através desta crónica, já com quase dois anos. Também no começo desta semana morreu Carmen Balcells, agente literária, figura chave para a literatura em castelhano do século XX. É muito bonita esta despedida.

publicado às 09:35

Pág. 1/2

Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D