Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

Se ao menos estivesse nu

Por: Rute Sousa Vasco

 

É uma grande sorte ou um enorme azar, é o que vos digo. Vários problemas da humanidade podiam resolver-se assim num piscar de olhos. Se pelo menos as estátuas, como a pintura e outras representações artísticas, colaborassem. Há que pôr esta gente na ordem. Mas vamos por partes.

 

Cecil Rhodes foi um grande imperialista, capitalista e, na pior acepção do ponto de vista dos próprios, africanista. Nasceu em Inglaterra, mas foi no continente africano que se tornou rico, tendo fundado a companhia de diamantes De Beers e também fundado, se assim se pode dizer, a região denominada então como Rodésia, hoje Zimbabwe e Zâmbia. Rhodes era um imperialista convicto e mais do que convencido dos méritos da raça branca, viveu profundamente embebido da superioridade da nação britânica. É dele a frase que “se se nasceu inglês, ganhou-se o primeiro prémio na lotaria da vida”.

 

Escusado será dizer que, com estes atributos, Cecil não é propriamente visto com ternura pelos africanos contemporâneos (e provavelmente ainda menos por aqueles com quem dividiu os seus dias). Mas, a sua visão da Grande Bretanha e a sua vontade de perdurar na História, levou-o a instituir a bolsa de estudo Rhodes, tida como a primeira a permitir um programa de estudos internacional (naturalmente, destinado àqueles que viviam nos territórios de lei britânica ou então oriundos da Alemanha).

 

Rhodes morreu em 1902 e em 1904 os administradores da sua fortuna fundaram também, cumprindo instruções suas, a Universidade de Rhodes, em Grahamstown, na África do Sul. A sua influência perdurou ao longo do século XX e de 1910 a 1984, a casa em que viveu na Cidade do Cabo foi a mesma que serviu de residência oficial aos primeiros-ministros sul-africanos, dando tecto a nomes como P. W. Botha e Frederik De Klerk.

 

E a aura do imperialista lá se foi perpetuando no tempo, como tinha ambicionado. Nos anos 50, com os temas raciais a começarem a marcar a atualidade, a estátua de Rhodes no campus da Universidade da Cidade do Cabo começou a ser questionada pelos estudantes. Não obtiveram sucesso e seguiram-se mais de duas décadas de apartheid.

 

Até que, no ano passado, ganhou forma o movimento Rhodes Must Fall, que em inglês até soa poético, mas que na realidade não é mais que um pragmático Rhodes tem de vir abaixo (ou simplesmente cair). E na era global, o protesto não se ficou pela África do Sul e atravessou continentes. Cumpriu o sonho do grande britânico e estourou em Oxford, na pátria-mãe onde, no Oriel College também se ergue um empedernido Rhodes. O argumento dos estudantes é simples: Rhodes é o Hitler de África (e temos de convir que parecenças físicas até existem, mas também era aquele estilo fim de século XIX que Adolf herdou). E ninguém quereria uma estátua de homenagem ao Hitler. O chanceler de Oxford não concorda e garante que não é apenas pelos 100 milhões de libras do Fundo Rhodes que a universidade perderia. Recomenda aos estudantes que vão estudar noutro sítio, se não conseguem ter liberdade de pensamento.

Tudo isto era facilmente resolvível com três premissas apenas: que a visita do líder iraniano à Europa incluísse Oxford, que os governantes ingleses estivessem nos antípodas do imperialismo do homem da estátua e, claro, que Cecil Rhodes estivesse nu. Isso, na realidade, é que resolvia praticamente tudo.

 

Tenham um bom fim de semana!

 

Depois da arte, os números. Alguns que fazem pensar:

 

O Facebook encerrou o ano de 2015 com um aumento de 44% nas receitas, totalizando 16,4 mil milhões de euros. Um número que resulta sobretudo da subida do valor embolsado com a publicidade. O quarto trimestre do ano passado foi mesmo o melhor de sempre. Há dinheiro para publicidade em media, só que não é bem para gastar em media.

 

E na semana em que soubemos que o IVA da restauração vai mesmo baixar para as refeições, ficamos também a saber que afinal de contas, mesmo sem um empurrãozinho dos impostos, os portugueses já estavam a regressar aos restaurantes e a deixar de lado a marmita. Os dados mais recentes da Kantar Worldpanel, empresa de estudos de mercado, revelam que o número de ocasiões de consumo dentro de casa (ou seja, os momentos em que confeccionamos e comemos alimentos) passou de 21 para 19. 

 

E agora, num país em permanente crise de lideranças, uma notícia que nos pode animar para efeitos futuros. Portugal é o 4.º país do mundo com mais qualidade nas escolas de negócios, revela o índice global da Competitividade e Talento. Este é o sector em que Portugal surge mais bem classificado neste relatório, que avalia 109 países, que representam 83% da população mundial e 96% do PIB do planeta. Pode ser que se traduza num país melhor, globalmente falando.

publicado às 10:26

A propósito de eleições

Por: Pedro Rolo Duarte

Sempre que há eleições, lembro-me de um episódio caricato que vivi há duas ou três vidas - e que me ajuda a relativizar a vida, as pessoas, a política. Ao ver a reportagem da SIC, com Marcelo Rebelo de Sousa, na passada segunda-feira, primeiro dia do candidato eleito, essa historieta voltou a sentar-se à minha frente. E é irresistível contá-la. Não tem qualquer relevância, mas revela o carácter de uma pessoa. Ou a falta dele.

 

Passou-se algures a meio dos anos 90. Eu era - ainda sou - amigo pessoal de uma então candidata a uma autarquia local relevante no país. Tão relevante que a SIC Notícias a tinha escolhido para ser uma das pessoas que protagonizaria um frente-a-frente com o candidato que se lhe opunha. Era um tempo em que ainda se respeitavam as decisões editoriais, e o canal escolheu meia-duzia de autarquias cujo peso mediático merecia atenção redobrada.

 

Nada habituada a debates deste tipo, menos ainda na TV, pediu ajuda aos seus amigos, desafiando-os para algumas noitadas de perguntas e repostas que podiam surgir no programa. Do meu lado, pediu-me que levasse mais um jornalista. Do seu lado, levou dois camaradas seus. Um deles era José Sócrates, então jovem deputado do PS - e foi assim que conheci a figura.

 

Não apenas me pareceu simpático como criou empatia comigo - e conseguiu. De tal forma que, na semana seguinte, na segunda noitada de perguntas e respostas à candidata, jantámos os dois, umas horas antes, um belo peixe ao sal num restaurante de Algés.

 

A amizade não passou para lá dessas duas ou três noites. Mas Sócrates fez questão de me tratar por “tu”, de que o tratasse por tu, e não evitou a conversa informal entre duas pessoas com uma amiga comum, idades próximas, ideias não muito divergentes.

 

A verdade é que a nossa “candidata” ganhou; uns dias depois (ou antes, já não sei precisar…) António Guterres era nomeado primeiro-ministro, depois de vencer quase em simultâneo eleições gerais - e, no meio de todo este alvoroço socialista, a minha amiga, entretanto alcandorada a presidente de câmara, comemorava, como habitualmente, o seu aniversário, com uma festa em casa. O (futuro) governo de Guterres marcou presença em força. Ainda não havia tomado posse, mas era como se já fosse: segurança reforçada, policia à porta de casa, aparato qb. Senti-me mais numa festa política do que, como em anos anteriores, num aniversário de uma amiga.

 

Passado o crivo da segurança, lá entrei na festa. A animação reinava, até porque parte daquelas pessoas já sabia que ia pertencer ao novo Governo, o que dava algum suplemento de vitalidade ao evento.

 

Todas as pessoas me trataram da mesma forma como antes me haviam tratado: havia quem me cumprimentasse com um “você” próximo e simpático, como Guterres e Ferro Rodrigues, havia quem mantivesse a frieza e distância anteriores, como Armando Vara, havia quem não me conhecesse e nem sequer olhasse. Havia de tudo, até pessoas que só me conheciam por ser “o filho do Rolo Duarte e da Maria João”, como o Duarte Brás.

 

Só notei uma diferença. Ao ver-me, José Sócrates -. o mesmo Zé que duas semanas antes me tratava por tu, e falava de peixe ao sal, futebol e política durante um jantar descontraído - olhou-me lá de cima dele próprio, numa repentina e nova pose, entre a superioridade e a distância, e perguntou:

 

- Você, também por aqui?

 

Nesse momento, percebi quem ele era e a que espécie de gente pertencia. E não me enganei.

 

Nem que fosse apenas por este traço de carácter, Marcelo Rebelo de Sousa merece a eleição que ganhou. Pode ter um sem número de defeitos - mas acredito que a sua atitude para com aqueles com quem se cruza será a mesma de sempre. Antes e depois do lugar para que foi eleito. Faz toda a diferença.

 

COISAS QUE ME DEIXARAM A PENSAR ESTA SEMANA

 

A rádio já foi dada como morta várias vezes. Tem resistido, e bem, e terá sido o primeiro meio de comunicação a explorar integralmente as potencialidades da Internet. Agora que a imprensa em papel estremece, vale tudo para manter as marcas no ar. E adaptar matérias escritas para serem lidas no telefone ou ouvidas no formato podcast é um desses caminhos. Vou seguindo o excelente trabalho da revista Time na sua newsletter diária, que pode ser lida ou ouvida digitalmente. A revista lá vai sobrevivendo em papel…

 

O escritor, guionista, poeta, Nuno Costa Santos chegou com o seu “Marginal Ameno” à RTP3. As suas pequenas crónicas de quotidiano, protagonizadas pelo próprio (sempre acompanhado pelo clássico saco de plástico…) são pérolas de humor, de ironia, de saber olhar. Sugiro que o sigam aqui, no blog, ou o apanhem no novo canal da RTP.

 

A edição online internacional do diário britânico The Guardian é seguramente das melhores da imprensa europeia. Com a vantagem de ser aberta e livre. Aconselho-a. No caso, e de link em link, podem divertir-se (ou talvez não…) com essa incrível história do traficante Joaquín "El Chapo" Guzmán e da sua captura, depois de uma fuga sofisticada, de uma entrevista à Rolling Stone, e do envolvimento da putativa namorada Kate del Castillo, que terá ligado o traficante ao actor Sean Penn. Um folhetim que tem de tudo: sexo, ambição, vaidade, crime, e Hollywood…

 

 

 

publicado às 10:49

Oh não! Outra vez o filme do “manguito”

Por: Paulo Ferreira

O Governo tem que convencer os analistas com números realistas e não com insinuações de incompetência. É que os incompetentes das agências de rating têm um poder muito superior aos dos gabinetes ministeriais, porque os primeiros é que decidem a que taxas de juro é que os segundos conseguem financiar o país. É tão simples como isso.

 

Não há muitos anos assistimos a um filme que começou da mesma maneira. Estávamos, como agora, nos últimos dias de Janeiro. O governo recém empossado num pequeno país europeu preparava o Orçamento do Estado, com as habituais promessas de rigor, de contas certas e de previsões realistas - está para nascer o governante que admita o contrário. As agências de rating faziam contas, olhavam para o aumento da dívida, diziam que a descida prevista no défice era escassa para as necessidades e a ameaçavam cortar o “rating”. Os governantes juravam que tudo estava sob controlo e devolviam acusações às agências de rating, acusando-as de servirem “interesses comerciais” - o que é, em grande parte, verdade, mas não nos serve de nada nem ajuda a pagar as nossas contas.

 

Esse país era Portugal e estávamos no ano da graça de 2010. O resto da história nós conhecemos e sabemos que não acabou bem - pode recordar aqui como começou.

 

De então para cá, o país descobriu que havia uma coisa chamada “rating” e soube o que era. Diabolizou as agências que os fixam, indignou-se quando nos atiraram para o “lixo” é até colocou o Zé Povinho a fazer um “manguito” à Moody’s. Lembram-se?

 

O filme tem então este cheirinho a “déjà vu” mas todos queremos acreditar que, conhecendo já o guião e não gostando dele, o vamos reescrever agora.

 

Já alguma coisa mudou nas últimas semanas. O PS previa, no seu programa eleitoral, um défice orçamental de 3% para este ano, que caiu para 2,8% na previsão do programa do Governo e que acabou por descer mais ainda, para 2,6%, no esboço de orçamento que seguiu para Bruxelas. Aumentam-se alguns impostos e cortam-se outros, a sobretaxa de IRS e o IVA dos restaurantes.

 

Aumenta-se alguma despesa na reposição salarial na função pública e prometem-se cortes de despesas de funcionamento e consumos intermédios na ordem dos 600 milhões.

 

O esforço está lá. Cortar cerca de 700 milhões de euros no défice previsto em pouco mais de meia dúzia de meses é obra para um governo que diz ser contra a austeridade, que gostava de poder rasgar o Pacto Orçamental e que preferia equilibrar as contas públicas a um ritmo mais lento.

 

O esforço existe. O problema é que essa existência ainda é só no papel. E “o papel aguenta tudo”, como é costume dizer-se daqueles planos de negócio que garantem que ir vender areia às carradas para o deserto vai ser um sucesso, com o EBIDTA a tornar-se positivo ao terceiro ano.

 

O que a Fitch diz é que as previsões em que assenta o Orçamento podem ser irrealistas. Sendo assim, o Excel do ministro das Finanças não bate certo com a realidade.

 

Os próximos dias vão ser importantes, até porque falta conhecer a proposta definitiva de Orçamento que vai ser entregue na Assembleia da República.

 

O Governo tem que convencer os analistas com números realistas e não com insinuações de incompetência. É até possível que na Fitch, na Moodys ou na Standard and Poors - a DBRS é boazinha porque é a única que nos mantém acima de “lixo”, permitindo que os títulos de dívida sejam aceites pelo BCE - o rácio de incompetentes seja superior ao dos nossos governantes, deputados, analistas, comentadores, jornalistas e o mais que quisermos.

 

A grande diferença é que mesmo os incompetentes não são todos iguais. Neste caso, os das agências de rating têm um poder muito superior aos dos gabinetes ministeriais, porque os primeiros é que decidem a que taxas de juro é que os segundos conseguem financiar o país.

 

É tão simples como isso.

 

Os senhores das agências de rating podem ser o diabo com gravata de marca mas são eles e mais ninguém quem avalia o risco de um devedor nos mercados internacionais. A escassez desta informação é tanta que os bancos centrais confiam neles para decidir que títulos de dívida aceitam como garantia quando diariamente emprestam dinheiro aos bancos.

 

Sim, estamos reféns das agências de rating e dos humores dos mercados. Sim, não há alternativa a isso. Ou melhor, alternativa há: trazer a dívida rapidamente para níveis sustentáveis para deixarmos de ter que pedir emprestado tanto dinheiro de cada vez que temos que amortizar um empréstimo que chega ao fim do prazo. Mas para isso é preciso acabar com os défices públicos anuais, o que implica cortar na despesa ou aumentar impostos… Bom, vocês já sabem como é. 

 

Tomem nota: em Maio temos que amortizar cerca de 7 mil milhões de euros e até lá mais uns trocos de quase 5 mil milhões. A nossa falta de soberania anda nestas escalas de valor. Afinal, quem é que está em condições de fazer um “manguito” a quem?

 

 

OUTRAS LEITURAS

 

  • O “golpe” eleitoral da devolução da sobretaxa é daqueles que devia envergonhar quem o fez. Não havia mesmo necessidade.


  • Não chegamos aos Óscares mas ganhámos um Hoscar. Com H grande.

 

 

publicado às 00:23

O que nos traz este tempo do Presidente-comunicador?

 Por: Francisco Sena Santos

Vamos ter a política portuguesa menos mal disposta. Com um Presidente comunicador como é Marcelo e um Primeiro-ministro negociador como é Costa, anunciam-se meses de equilíbrio harmónico no topo do Estado e na governação do país. É um alívio numa época em que há que suturar a fratura social. Não é que o debate político fique neutralizado como aconteceu na campanha presidencial, esvaziada de discussão. Mas vamos livrar-nos do azedume presidencial e até é de esperar que escapemos, pelo menos por uns tempos, a episódios de baixas astúcias no confronto entre partidos.

 

Até se poderá esperar – será demasiado otimismo? -  que o combate se desloque de algumas das guerrilhas internas para uma sintonizada mobilização ampla (designadamente, Presidente e Governo) para enfrentar o choque com os credores externos nas negociações para a suavização necessária das condições para atenuar o défice e pagar o resgate. Seguramente precisamos todos de uma frente interna coesa e robusta para enfrentar o duelo com os que acham que é com austeridade que o problema português se resolve.

 

E há que tentar em conta que, a partir de Madrid, o PP de Rajoy, por interesses da sua sobrevivência política, está a fazer tudo para desacreditar na Europa a prática do pacto das esquerdas em Portugal. O Presidente Marcelo tenderá a ajudar o governo a explicar à governação europeia das direitas que o modelo receitado a Portugal nos últimos quatro anos não serve.

 

Marcelo-candidato mostrou-se na campanha a antítese de Cavaco Silva. Mostrou todos os dias que vai ser um presidente de afectos. Ainda está para se ver como vai o sagaz Presidente intervir, ao longo de todo o mandato, no dia a dia político. Está anunciado que o Conselho de Estado vai ser revitalizado. Seria bonito se o Presidente que no discurso de vitória quis frisar que “é o povo quem mais ordena” escolhesse para dois dos cinco conselheiros que lhe cabe indicar personalidades como Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias, que representam um terço da preferência dos eleitores. Ficariam bem num Conselho de Estado que também vai ter a sabedoria de Adriano Moreira e a experiência de Domingos Abrantes, para quem as paredes do PCP sempre terão sido mesmo de vidro. Seria tentador furar o sigilo e poder seguir as discussões num Conselho de Estado assim. 

 

O ciclo político com três eleições (europeias, legislativas, presidenciais) em menos de dois anos está fechado. O início deste novo ciclo talvez traga alguma rearrumação na paisagem partidária portuguesa neste ano de congressos. Será que o PS vai querer optar por um claro posicionamento de centro esquerda com entendimentos preferenciais à esquerda (a escolha que Costa fez em outubro foi de convicção ou circunstancial, de conveniência?) ou vai continuar a deixar pairar a ambiguidade que não ajuda a encher um espaço? Será que o CDS, com Assunção Cristas, vai deixar de ser PP e retomar algo da matriz democrata-cristã? Será que o PSD vai recentrar-se, mesmo que continue longe da identidade que tem no nome? Será que o PCP vai continuar a pensar que é pela via do compromisso que melhor influencia as decisões para o seu interesse e para a governação do país? O BE, como vai evoluir com a base consolidada de 10% do eleitorado? O palco político pode trazer debates interessantes.

 

TAMBÉM A TER EM CONTA:

 

Na noite de 25 para 26 de janeiro de 2011, a revolução com rótulo de “Primavera Árabe” eclodia também no Egipto. Foram 18 dias em que os egípcios tomaram em mãos o seu país e que levaram à queda de Mubarak, o presidente que estava há 30 anos no poder.  Passados cinco anos, a ilusão está perdida, muitos dos revolucionários de 2011 fazem parte da enorme lista de presos políticos e o autoritarismo volta a impor-se.

 

Ainda só passou mês e meio sobre o fecho, por entre otimismos, da conferência sobre o clima, em Paris. Nesses dias falou-se imenso do planeta, depois voltou a negligência. Agora, aí está um conveniente alerta.

 

O Irão está de volta à Europa. Bem-vindo! O presidente iraniano iniciou em Roma uma ronda por capitais europeias. Mas alguém decidiu que para não ofender a sensibilidade iraniana havia que tapar as esculturas de corpos nus nos museus do Capitólio. Que vergonhosa censura de obras de arte.

 

Duas primeiras páginas escolhidas hoje no SAPO JORNAIS: esta, que confronta o ainda Presidente com a realidade e que nos conta o essencial da manhã, e esta, com a proclamação oficiosa angolana da “amizade e cooperação” com Portugal.

publicado às 11:00

30 anos de Cavaco Silva, um momento #6: Cavaco Silva, um caso muito interessante

Por: José Couto Nogueira

 

Considero o Aníbal Cavaco Silva um caso muito interessante.

 

Antes de cuspir no ecrã do computador, ou lançar uma praga bíblica à minha pessoa, queira ter a paciência de ler o que segue.

 

Quando voltei para Portugal, em 1992, depois de uma longa tournée pelo mundo e arredores, era Cavaco primeiro-ministro. Graças aos biliões de fundos que entravam diariamente no país, vivia-se num período de euforia e gastança nunca visto. Mal reconheci o país macambúzio e miserabilista que tinha deixado. Embora os biliões fossem prodigamente gastos em tudo menos no que seria prudente gastá-los, era difícil distinguir se a abundância consumista em que se vivia era uso supérfluo ou gestão generosa.

 

Cavaco e a turma que liderava distribuíam as verbas com prodigalidade – inclusive entre eles, mas isso também não se percebia – e toda a gente estava feliz em grandes almoçaradas, a construir toda a espécie de mamarrachos de que precisávamos ou não precisávamos, e a inventar maneiras de estofar os bolsos de notas.

 

A única voz gritante contra Cavaco era o “Independente” mas, como as críticas eram sobretudo para o facto de ele ser piroso e provinciano, considerei que se tratava de uma sobranceria de classe; os “meninos bem” sentiam-se incomodados com o poder e a arrogância de um zé ninguém chegado ao poder porque queria fazer a rodagem do carrito classe média baixa.

 

Quando Cavaco caiu, enredado num fait divers que só a sua teimosia podia ter provocado (o caso das portagens na ponte 25 de Abril, lembram-se?), já tinha perdido muito da aura de bom administrador e economista competente. Mas ninguém pensava voltar a vê-lo e, continuando a prodigalidade europeia nas mãos do beato Guterres, cheio de falinhas mansas, pouco interessava o que viesse a acontecer ao caprichoso e casmurro Cavaco.

 

Nunca tive dele uma grande impressão pessoal. Os discursos eram de uma falta de imaginação e inteligência totais. Pareciam leituras académicas de um curso de Contabilista Oficial. E, afinal de contas, um tipo que estuda em York, na Grã Bretanha, e nem sequer aprendeu a fingir algum sense of humor ou a usar casacos de tweed, só podia ser um engulho. A aparência salazarenta (aqueles fatinhos e gravatas...) e a postura empertigada, estilo vendedor fora de moda, mostravam uma cabecinha preconceituosa e conservadora.

 

Estou a ser superficial? Talvez. Mas não esqueçamos as palavras do grande filósofo social Óscar Wilde: “Só as pessoas extremamente superficiais não se preocupam com a aparência.” É que a aparência, sendo uma decisão voluntária do portador, mostra a maneira como ele se quer mostrar ao mundo. Ser baixo, ter acne juvenil ou maus dentes são desgraças que nascem connosco; agora, vestirmo-nos como um manequim de saldos da Rua dos Fanqueiros e trazer a tiracolo uma esposa desengonçada e “pouca coisa” já são decisões nossas, que nos podem ser cobradas.

 

Adiante. A volta gloriosa de Cavaco Silva como Presidente da República foi uma desagradável surpresa, a qual tive o senso de não votar. (Na primeira presidência optei por Manuel Alegre pois, embora o achasse um saco de vento, não pensava que fosse preciso mais do que isso para um cargo sem grandes poderes, e achava que ele ia ficar bem a declamar poemas bacocos do alto da varanda de Belém, com aquela voz tonitruante. Faria melhor figura junto dos congéneres estrangeiros, que era o que se esperava dum PR. Na segunda presidência, o meu desespero era tal que votei no Coelho da Madeira.)

Como agora sabemos, Cavaco revelou-se um presidente sem flexibilidade mental (o tal sense of humor sempre serve para alguma coisa, não é?), sem “ginga” para rodopiar entre os vários interesses e grupos de pressão que se aninham no poder. Pior, apoiou o seu ex-partido despudoradamente – é suposto que os presidentes o façam com decoro – e agarrou-se às suas ideias económicas como uma lapa, sem a mínima percepção do mal que tinha feito ao país e do que poderia fazer para o atenuar.

 

Pior ainda: verificou-se, sem que os tribunais o conseguissem provar, que os homens que governaram com Cavaco constituíam, na sua maioria, uma associação com actividades que a justiça considerou suspeitas em vários casos, e que lançou dúvidas sobre a gestão da coisa pública para lá do que o pudor permite dizer.

 

Teorias existem, e com indícios, que era ele o chefe dessa turma. São apenas indícios, não tão convincentes como os que agora afectam outros ex-senhores do país. Não são provas, como dizem os advogados. Mas é impossível que ele não soubesse o que se estava a passar. Ao filho dum dono de posto de gasolina no Algarve já seria difícil não perceber as negociatas, mas a um economista masterizado em York, e mesmo sem ter aprendido a escolher as gravatas, era impensável. Tanto que, ao que se vê, e entra pelos olhos adentro, beneficiou com operações nunca muito bem explicadas – e teve a arrogância de não sentir necessidade de as explicar, alegando uma "dupla honestidade" que, simples ou múltipla, todos somos obrigados a esclarecer.

 

Mas foi na segunda presidência que o homem que nunca se engana mostrou realmente como nos enganamos na escolha. Logo pelo discurso de aceitação, a primeira vez na História da Democracia Universal em que um vencedor não diz graciosamente que vai ser o pai de todos, amigos e inimigos, e esquecer as diferenças.

 

Creio que esse discurso foi o meu “momento Cavaco”, a altura em que caiu a ficha. 

Foi também quando percebi que, nos 42 anos desta República, 20 anos, metade, são “anos Cavaco”.

 

Qual Mário Soares, qual quê!

 

Soares pode ter manobrado eficientemente para termos uma democracia, pode ter representado durante muito tempo a bonomia e a boa disposição do espírito republicano; mas todos os anos somados, não chega ao tempo em campo do homem de Boliqueime. 

 

Nunca pensei que um Presidente desta amada República pudesse alguma vez ser comparado ao incomparável Américo de Deus, na trapalhice e na incompetência asinina. Nunca pensei que o cargo mais alto da nação pudesse ser tão rebaixado ao ponto de se estabelecerem comparações entre um presidente empurrado por uma ditadura por ser burro e inofensivo, e um presidente votado livremente pelos cidadãos.

 

Até ao fim – e o fim está à vista, mas ainda não chegou – Cavaco Silva manteve-se impávido por vinte anos de incompetência, em que nem os objectivos que traçou para si conseguiu atingir.

 

Não me digam que não é um caso interessante.

 

 

Este texto faz parte dum conjunto de seis testemunhos pessoais de jornalistas que escolheram um momento definidor do que foi, para eles, o político Cavaco Silva. Leia também:

 

#1: As lições de uma ponte, por Pedro Rolo Duarte

#2: Era uma vez o Cavaco, por Márcio Candoso

#3: A 'trisneta' do Cavaco, por Diana Ralha

#4: A primeira noite de Cavaco SIlva no ecrã, por Francisco Sena Santos

#5: Cavaco Silva em cinco actos, por Pedro Fonseca

 

 

 

 

publicado às 22:22

30 anos de Cavaco Silva, um momento: seis jornalistas e as memórias de um presidente

Cavaco Silva está prestes a afastar-se da ribalta da política nacional - ao fim de mais de 30 anos em que ocupou os mais importantes cargos da nação, como primeiro-ministro e presidente da república (com uma pausa entre ambas essas funções, do final de 1995 a 2006). Sendo o político que, desde o 25 de abril, mais tempo definiu os destinos do país, são inevitáveis os balanços.

O SAPO24 propôs a seis jornalistas que escolhessem, desses mais de 30 anos, um momento definidor do que foi, para eles, o político Cavaco SIlva. Aqui ficam os testemunhos pessoais de Pedro Rolo Duarte, Márcio Candoso, Diana Ralha, Francisco Sena Santos, Pedro Fonseca e José Couto Nogueira.

 

 #1: As lições de uma ponte, por Pedro Rolo Duarte

 #2: Era uma vez o Cavaco, por Márcio Candoso

#3: A 'trisneta' do Cavaco, por Diana Ralha

#4: A primeira noite de Cavaco SIlva no ecrã, por Francisco Sena Santos

#5: Cavaco Silva em cinco actos, por Pedro Fonseca

#6: Um caso muito interessante, por José Couto Nogueira

 

As imagens que ilustram os seis momentos escolhidos:

 

publicado às 18:36

30 anos de Cavaco Silva, um momento #5: Cavaco Silva em cinco actos

Por: Pedro Fonseca

 

Vivi mais de 30 anos com Cavaco Silva, pelo que escolher um momento desta convivência é difícil. Mas é possível traçar uma linha de vida, sabendo que ele nunca me desiludiu porque eu nunca me iludi com ele - e não falo apenas enquanto Presidente da República, mas também como Primeiro-Ministro. Eis o porquê em cinco simples actos.

 

I Acto - A caminhada

 

Cavaco Silva sempre quis passar a ideia de não ser político ou de ser um político diferente dos outros, apesar de ser militante do PPD desde a sua fundação.

 

Imagem de marca dessa ideia foi a famosa rodagem ao novo carro, directo à Figueira da Foz em Maio de 1985, onde decorria o VIII congresso do partido e no qual acabou eleito. "Não tinha qualquer intenção de ser eleito líder", disse mais tarde, obliterando o pormenor de antes já estar a ser treinado pela actriz Glória de Matos que, ao "Expresso", explicou como ele “tinha a queixada saliente, dentes desencontrados, língua pouco trabalhada”, o que gerava “um problema de dicção e de silabação, era péssimo nas consoantes, problemático nos erres”.

 

Desde que assumiu o governo a 6 de Novembro de 1985 até ao fim do terceiro mandato, a 28 de Outubro de 1995, Cavaco colocou-se alegadamente acima dos seus interesses pessoais e financeiros, não se coibindo de deixar misturar estes em benefício de terceiros, muitas vezes por omissão.

 

Foi o caso da enorme avalancha e trapalhada após a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, nomeadamente com o Fundo Social Europeu (FSE), destinado à formação.

 

Passou ainda pelos casos bancários do BPN (onde investiu e obteve um retorno significativo) ou do BES (sobre o qual falou publicamente e obteve um impacto negativo não assumido).

 

Sobre o caso BPN, chegou a dizer em Dezembro de 2010 que "para serem mais honestos do que eu, têm que nascer duas vezes".

 

Em resumo, ser mais honesto do que Cavaco, só nascendo duas vezes.

 

 

II Acto - Sozinho contra todos

 

Em termos de obra feita, Cavaco Silva foi responsável pela flexibilização das ofertas bancárias e pelo acesso mais facilitado ao crédito.

 

Foi reconhecido como plantador de alcatrão, tendo Portugal passado de 196 quilómetros de auto-estradas em 1986 para mais de 2.000 quilómetros em 2004.

 

 

Nesta, como noutras questões, agiu contra a opinião de muitos e teve razão. Dinamizou a construção da Ponte Vasco da Gama (quando peritos diziam que devia ser a terceira escolha), a organização da Expo'98 ou a construção do Centro Cultural de Belém (CCB). Neste caso, era preciso um local para receber no primeiro semestre de 1992 a primeira presidência portuguesa do Conselho das Comunidades Europeias.

 

O homem que em Janeiro de 1994 dizia apenas ler jornais durante cinco minutos de manhã e outros cinco à tarde (a web estava a emergir e Cavaco nunca foi conhecido por ser ciberincluído), abriu a comunicação social aos grupos privados. E percebeu como a manipular.

 

No Verão de 2009, entre artigos do Público e do Diário de Notícias, soube-se do caso das escutas a partir de Belém - atribuídas ao seu assessor Fernando Lima - ou de como "consultores de Belém" estavam a ajudar a campanha de Manuela Ferreira Leite contra José Sócrates. O caso levou Cavaco a afirmar existirem "vulnerabilidades" no sistema de telecomunicações da Presidência, num processo de análise técnica que envolveu uma entidade externa e cujos resultados nunca foram divulgados.

 

No 10 de Junho de 2014, ocorre o segundo desmaio de Cavaco Silva em cerimónias oficiais. Entre preocupações sobre a saúde e a prossecução do mandato pelo Presidente, um jornalista da TSF garante que terá sido usado um "inibidor de sinal" para os telemóveis ficarem inoperacionais. A SIC afirmou que "os seguranças da Presidência afastaram os repórteres de imagem, quando perceberam que Cavaco se sentiu mal, dificultando a recolha de imagens daqueles momentos de tensão". O Público sustentou que "os seguranças impediram qualquer aproximação e mandaram mesmo apagar as fotografias a alguns fotógrafos que estavam mais perto do local onde o Presidente foi assistido".

 

Em resumo, Cavaco pode ter ideias mas não as quer divulgadas quando podem ser contra ele.

 

 

III Acto - Qualidade política

 

A aspiração política após ter sido o responsável pelos X a XII governos de Portugal - sendo assim o primeiro-ministro com mais tempo na liderança do país no pós-25 de Abril - prosseguiu em 1996, quando foi derrotado por Jorge Sampaio nas eleições presidenciais. Voltou para ganhar o cargo em Janeiro de 2006 e ser re-eleito em Janeiro de 2011, perdendo cerca de meio milhão de votos e registando o pior resultado numa eleição presidencial desde o 25 de Abril.

 

Já a conspiração política ocorreu antes. Em 2000, escreve o artigo O monstro, onde criticou o orçamento de Estado do governo socialista. Em Novembro de 2004, quando Pedro Santana Lopes era primeiro-ministro, Cavaco escreve no "Expresso" sobre como a “má moeda” na classe política afasta a “boa moeda”. O artigo “Os políticos e a lei de Gresham” salientava ser “chegado o momento de difundir um grito de alarme sobre a tendência para a degradação da qualidade dos agentes políticos”.

 

Dois anos depois, defendeu "salários mais altos na política", por "forma a atrair os melhores profissionais para a governação do País" e voltou à carga na visão sobre os políticos nos discursos de tomada de posse, na Assembleia da República (AR).

 

No primeiro, a 9 de Março de 2006, lançou cinco desafios, entre os quais "o da credibilização do nosso sistema político, um domínio de crescente insatisfação dos cidadãos que importa não ignorar", porque "um Estado ao serviço de todos, como se exige em democracia, deve ser servido pelos melhores e, por isso, a escolha dos altos responsáveis não eleitos não pode senão nortear-se exclusivamente por critérios de mérito, onde as considerações político-partidárias não podem contar".

 

No segundo, a 9 de Março de 2011, afirmou a necessidade "de recentrar a nossa agenda de prioridades, colocando de novo as pessoas no fulcro das preocupações colectivas. Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático". Pensando "especialmente" nos jovens, apelou aos mesmos que "é possível viver num País mais justo e mais desenvolvido, com uma cultura cívica e política mais sadia, mais limpa, mais digna".

 

Em Novembro de 2014 insistiu: "é importante lembrar alguns políticos que quando falam de certos assuntos devem estudar primeiro. Devem estudar o que diz a Constituição, o que dizem as leis, como é que as leis foram aprovadas e como é que esses assuntos são tratados nos países da Europa comunitária".

 

Em resumo, excepto no seu caso, há uma necessidade de renovação política.

 

 

IV Acto - Palavras e actos

 

É também no primeiro discurso na AR em 2006 que Cavaco afirma que "tentar preservar a competitividade à custa de salários baixos é uma estratégia sem futuro" - mensagem que repetiu em anos seguintes.

 

 

Mas a aposta na investigação e desenvolvimento (I&D) nunca obteve o seu apoio prático, embora tenha depois abraçado a causa da inovação (mérito de Diogo Vasconcelos, que Cavaco levou como assessor para o Palácio de Belém).

 

Em 1986, Cavaco Silva prometeu 1% do PIB alocado à I&D dali a dez anos. Em Maio de 1987, nas Jornadas Nacionais de Investigação Científica e Tecnológica, estabeleceu "como metas da nossa acção, neste domínio, duplicar a comunidade científica até 1990 e permitir que as despesas em I&D atinjam então pelo menos 1% do PIB". Estava-se então com 0,2%, segundo o Pordata.

 

Entre 1991 e 1995, este investimento estabilizou-se nos 0,6% do PIB, com Cavaco Silva a anunciar em Novembro de 1993 que "Portugal atingirá no virar do século 1,5% do PIB".

 

Os governos de António Guterres elevam a despesa em I&D até aos 0,7% em 1999 e Durão Barroso chegou aos 0,9% mas os 1% de investimento em I&D só ocorrem entre 2009 e 2011, tendo depois decaído.

 

Em resumo, Cavaco Silva falhou nas suas metas para a inovação, apesar de as defender.

 

 

V Acto - Impoluto

 

Cavaco Silva quis sempre mostrar-se o não-político que geria as finanças de forma sóbria e honesta, as suas e as do país.

 

Sobre as finanças pessoais, afirmou em Janeiro de 2012 - em plena crise de cortes nas pensões - que ia receber um total de pensões que "quase de certeza não vai chegar para pagar as minhas despesas porque eu não recebo salário como PR". Não recebe porque não quis, sabendo-se que tomou a decisão por os cortes salariais na Função Pública terem impacto no valor a receber na Presidência.

 

Disse então: "Já sei quanto irei receber da [Caixa Geral de Aposentações (CGA)]. Eu descontei, quase 40 anos, uma percentagem do meu salário de professor universitário e também descontei alguns anos como investigador da Fundação Calouste Gulbenkian. Irei receber 1.300 euros por mês. Não sei se ouviu bem: 1.300 euros por mês. Quanto ao fundo de pensões do BdP, para onde descontei durante 30 anos, ainda não sei quanto irei receber. Tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas porque, como sabe, eu não recebo salário como PR". 

 

A afirmação foi escrutinada. E teve ainda maior impacto quando se soube, nesse ano, que recebia mais de 9.300 euros mensais de três pensões (funcionário do Banco de Portugal, pela CGA por ter sido professor e ainda pelo antigo cargo de primeiro-inmistro).

 

No final de 2012, nova polémica com a sua casa no Algarve. As Finanças de Albufeira recusaram ao diário "Público" o acesso a dados de avaliação da casa, invocando o dever de sigilo fiscal que, segundo explicaram ao jornal, "apenas cessa em caso de autorização do contribuinte", alegando que "o processo de avaliação integrava não apenas dados de natureza pública, mas também dados suceptíveis de revelar a situação tributária dos contribuintes, protegidos pelo dever de sigilo".

 

Isto quando a Autoridade Tributária já publicava online a lista dos devedores fiscais, sem qualquer autorização destes. Nunca se soube se existiu um tratamento preferencial.

 

Do lado do Palácio de Belém, Cavaco Silva também demonstrou uma falta de transparência atroz. Foi um dos presidentes "mais gastadores da Europa", como explicava o "Diário de Notícias" em 2011, quando tinha um orçamento anual de 16 milhões de euros e "um regimento de quase 500 pessoas".

 

A falta de transparência ocorreu igualmente ao nível das aquisições para o Palácio de Belém durante uma década. Ao pesquisar o portal Base sobre os contratos públicos, não existe um único da Presidência ali registado.

 

As aquisições foram sempre efectuadas "por ajuste directo e sem divulgação", num valor que o Tribunal de Contas acredita chegar aos 4,2 milhões de euros em 2014. "A Presidência promete passar a divulgar no final deste mês" essa informação, revelou o "Jornal de Negócios". Ou seja, quando Cavaco Silva apenas estará a poucas semanas de ser substituído no cargo.

 

Em resumo, Cavaco Silva é um homem diferente entre o que diz e o que faz. Mas não tenho dúvidas: ele vai sair da Presidência mas não da política. Porque ele nunca me desiludiu...

 

 

Este texto faz parte dum conjunto de seis testemunhos pessoais de jornalistas que escolheram um momento definidor do que foi, para eles, o político Cavaco Silva. Leia também:

 

#1: As lições de uma ponte, por Pedro Rolo Duarte

#2: Era uma vez o Cavaco, por Márcio Candoso

#3: A 'trisneta' do Cavaco, por Diana Ralha

#4: A primeira noite de Cavaco SIlva no ecrã, por Francisco Sena Santos

#6: Um caso muito interessante, por José Couto Nogueira

 
 
publicado às 18:29

30 anos de Cavaco Silva, um momento #4: A primeira noite de Cavaco SIlva no ecrã

Por: Francisco Sena Santos

 

Esta história começa há 36 anos, e teve em 1994 o que afinal foi um falso fim. De facto, a saga chega até estes dias.

 

O momento em que os portugueses ouviram pela primeira vez Aníbal Cavaco Silva foi na noite de 9 de fevereiro de 1980. Nesse sábado em que o Futebol Clube do Porto de Pedroto, bicampeão nacional, recebia, com enchente total no estádio das Antas, o rival Benfica, a quem viria a ganhar (“o capitão Rodolfo foi decisivo”, exaltou José Neves de Sousa no "Diário de Lisboa"), aconteceu uma surpresa nos ecrãs da televisão, ao tempo a RTP única: antes do jogo, surgiu uma inédita comunicação ao país pelo ministro das Finanças e do Plano do governo de Sá Carneiro, há apenas 35 dias em funções. Foi a estreia de Cavaco Silva perante os portugueses.

Quem não tivesse andado por Economia mal lhe conhecia a cara e nunca lhe tinha ouvido a voz. A pose austera daquele homem de queixo saliente impressionou: sem um sorriso ou algum aceno de simpatia, de modo sisudo, Cavaco Silva anunciou as 15 medidas que acabava de decidir com intenção de recuperação da economia portuguesa em tempo de inflação disparada. Comunicou a revalorização do escudo português em 6% e, designadamente, medidas para contenção da despesa pública e dos salários. A dicção daquele homem que arranhava os erres foi medíocre, mas a figura, a pose, o olhar, os silêncios e o discurso deixaram perceber que estava ali uma personagem com ambição e ossatura política. Aquela presença forte, apesar de desajeitada, revelava alguém que aparecia para ficar no palco político português. Aliás, voltaria a aparecer logo três noites depois, então em formato de entrevista, conduzida por Francisco Sarsfield Cabral. Foi a confirmação de que estava ali um político que iludia a imagem de político, apresentando-se como professor, técnico.

 

As medidas anunciadas por Cavaco Silva naquela noite de 9 de fevereiro levaram aos resultados que pretendia: em menos de um ano a inflação portuguesa baixou mais de sete pontos percentuais, de 24% para 16,6%.

 

Esse governo da Aliança Democrática (AD), presidido por Francisco Sá Carneiro, seria breve, com o fim precipitado no final desse ano pela morte do primeiro-ministro na trágica queda da avioneta Cessna em Camarate. A sucessão na chefia do governo da AD foi assumida, depois de algumas discussões, por Francisco Pinto Balsemão. Mas, então, Cavaco Silva escusou-se a continuar como ministro. Não foi por preferir a universidade à política. Foi por discordar da condução política de Balsemão no PSD. Passou a preparar o tempo dele, intervindo perante as bases. É nesse tempo que Cavaco Silva escreve uma carta aos militantes em que denuncia “resignação nas cúpulas” do PSD ao mesmo tempo que desafia as bases ao proclamar que “a coragem não morreu”.

 

Assim, não foi com surpresa que no fim de semana de 18 e 19 de maio de 1985 Cavaco Silva saiu líder do PSD no congresso na Figueira da Foz – o tal onde foi “fazer a rodagem ao novo Citroen BX” -  onde a disputa prometida era entre Rui Machete e João Salgueiro, mas foi Cavaco quem ficou entronizado. Em 6 de outubro desse ano o PSD de Cavaco ganhou as eleições legislativas com 29,8% dos votos, frente aos 20,7% do PS de Almeida Santos e 17,9% do recém-criado PRD eanista. Este parlamento atomizado veio a ser dissolvido dois anos depois pelo presidente Mário Soares. Cavaco Silva passou à maioria absoluta com 50,2% nessas eleições de 87. Subiu para 50,6% em 1991. Era o tempo do boom económico e das farturas dos fundos europeus.

 

 

O terceiro governo de Cavaco Silva trouxe o declínio do político que pronunciou a célebre frasesita: “Nunca me engano e raramente tenho dúvidas”. O semanário "Independente", dirigido por Paulo Portas, catalisou o desgaste.

 

O “buzinão”, culminado com o bloqueio de todo o trânsito na ponte 25 de Abril, a partir das 7 da manhã e até por volta das 6 da tarde de 24 de junho de 1994, pareceu, naquele tempo, simbolizar o fim político do líder que dizia não ser político profissional. Julgou-se que essa previsão saía confirmada com o voto dos portugueses que, em janeiro de 96, na eleição presidencial, escolheram Jorge Sampaio (53,9%), deixando Cavaco Silva vencido a quase oito pontos percentuais.

 

Pensou-se que era a retirada definitiva de Aníbal Cavaco Silva. Não foi. Dez anos depois, com crises políticas e financeiras no ar, muitos dos portugueses que tinham ficado zangados com as derivas no final da década de governos Cavaco Silva, acabaram por voltar atrás. Terão desejado um presidente que fosse uma espécie de professor ou ministro das Finanças, e contribuíram para a eleição de Cavaco Silva para mais uma década no topo do poder político em Portugal. Então, como Presidente da República. Esta década presidencial chega ao fim com nunca vista desaprovação da cidadania. Desta vez, parece mesmo ser o fim do mais longo ciclo de poder no Portugal democrático. Tudo começou naquele início de 1980, há 36 anos.

 

 

Este texto faz parte dum conjunto de seis testemunhos pessoais de jornalistas que escolheram um momento definidor do que foi, para eles, o político Cavaco Silva. Leia também:

  

#1: As lições de uma ponte, por Pedro Rolo Duarte

#2: Era uma vez o Cavaco, por Márcio Candoso

#3: A 'trisneta' do Cavaco, por Diana Ralha

#5: Cavaco Silva em cinco actos, por Pedro Fonseca

#6: Um caso muito interessante, por José Couto Nogueira

publicado às 18:28

30 anos de Cavaco Silva, um momento #3: A 'trisneta' do Cavaco

Por: Diana Ralha

 

Cavaco está entranhado no estranho apelido com que assino este texto. Um notável Ralha integrou, aos 66 anos de idade, o XI Governo Constitucional, ficando conhecido como “avô do Cavaquismo”. Isso, então, faz de mim… trisneta de Cavaco.

 

Não foi fácil ser neta do “avô do Cavaquismo”, até porque o meu avô, tutelando a pasta do Ensino Superior, também foi “avô” de uma das maiores polémicas no acesso ao ensino superior: a criação da Prova Geral de Acesso (pêgêá para os amigos).

 

Cavaco trespassa a minha infância e adolescência (o neto primogénito lixou-se com a pêgêá e eu fiquei conotada com a “geração rasca” do Vicente Jorge Silva, pelos jovens maganos que decidiram baixar as calças em São Bento, e mostrar os seus atributos traseiros às provas globais no ensino secundário) e, agora, na idade adulta e com as dores de crescimento, volta a aparecer-me: num inventário de uma herança, numa sentida nota de pesar e condolências do Estado Português pela morte do avô do Cavaquismo.

Estive escalada como jornalista do diário PÚBLICO na campanha das eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006, que abriram a porta de Belém a Cavaco, e apresentaram um PS fracturado às eleições, com as candidaturas de Manuel Alegre e Mário Soares (onde é que já vimos isto?).

 

Garanti com orgulho e dedicação a segunda divisão da cobertura mediática desta campanha e, na grande noite eleitoral, relatei os miseráveis resultados obtidos pelo agora proscrito (mas eternamente genial) Garcia Pereira, que se ficou pelos 0,2 por cento, se não estou em erro.

 

Mas não é desse domingo que eu me lembro.

 

Sete dias depois de Cavaco ter sido eleito, nevou em Lisboa. Cinquenta anos depois do último relato, Lisboa cobriu-se de neve.

 

Não consigo reproduzir em palavras como o meu coração duplicou de tamanho quando o carro que ainda hoje conduzo, disparou um alarme pela quebra abrupta de temperatura e avisou, premonitório: “Perigo. Neve”. E depois começou a cair, branca e leve, como no poema, e cobriu tudo. Eu e a minha mãe aos pulos, abraçadas, meia hora de magia pura, a vê-la cair dos céus.

 

Para mim, Cavaco em Belém ficou sempre associado a neve em Lisboa numa manhã de Janeiro.

 

Não imagino que fenómeno climatérico extremo se segue, agora, dez anos depois, com a sua saída. 

 

Diana Ralha é consultora de comunicação, mãe de quatro filhos, autora do blog A Familia Numerosa (e ‘trisneta’ do Cavaquismo)

 

Este texto faz parte dum conjunto de seis testemunhos pessoais de jornalistas que escolheram um momento definidor do que foi, para eles, o político Cavaco Silva. Leia também:

 

#1: As lições de uma ponte, por Pedro Rolo Duarte

#2: Era uma vez o Cavaco, por Márcio Candoso

#4: A primeira noite de Cavaco SIlva no ecrã, por Francisco Sena Santos

#5: Cavaco Silva em cinco actos, por Pedro Fonseca

#6: Um caso muito interessante, por José Couto Nogueira

 

publicado às 18:27

30 anos de Cavaco Silva, um momento #2: Era uma vez o Cavaco

por: Márcio Alves Candoso 

 

Aqui fala um antigo jornalista, que nasceu para a profissão quando Cavaco Silva já era primeiro-ministro. E para que fique desde já claro, não se gaba desse facto ou rejubila com a pessoa em título. Cavaco é tudo o que de mau o 25 de Abril nos trouxe em termos políticos. Traz ao de cima, e ao palácio do povo, os defeitos típicos do português, como outrora Salazar, num outro contexto.

 

Urbano me confesso, amante da cultura, da vida boa e sem complexos. Do trabalho quando é de trabalho que se trata, da fruição da praça pública, até nos seus exageros, quando é isso que mais interessa. Rio-me. Cavaco não entende a piada.

Cavaco dá aos portugueses aquela sensação de sofrimento 'necessário' que tanto mal faz à nossa existência e realização pessoal e colectiva. Por outro lado, desculpa os videirinhos e os chicos-espertos, que se locupletam com o erário público, a troco de obra marrana e sem critério. E finalmente alcandora à mó-de-cima os brutos. Cavaco é 'bullying' para os nossos afectos.

 

O homem, como a todos os que temos memória dos nevoeiros e chuvas dos mais recentes 35 anos, passou por mim. Nunca votei nele, nem sozinho nem acompanhado. Onde aparecia, afastava-me o 'x' no boletim. Fala aqui, também, um social-democrata convicto, coisa que ele nunca foi na vida.

 

Não vou falar do Citroën, nem da Figueira da Foz. Nem das aulas com Glória de Matos para aprender a conjugar as sílabas e a soletrar as lábio-dentais, essa equação linguística que resiste a qualquer Excel. Nem tão pouco das más companhias, das privatizações macacas, do bolo-rei e das cagarras.

 

A primeira vez que vi Cavaco Silva ao vivo ia eu a subir a Avenida de Roma e ele descia-a. Em carro aberto, ele mais sua Maria, agradecia os aplausos da multidão de classe média, que abanava bandeiras na rua e nas janelas, muitas delas do CDS que ele ajudou a matar. Pagaram caro as 'tias' e os tonsurados com a visão do homem 'providencial'.

 

Lembro-me que andava às compras de umas botas ou sapatos. A multidão quase me engolia, naqueles idos de 87. Por sorte, passou de carro, pelo lado livre da avenida, o meu ex-comandante de pelotão da tropa. Como bom camarada e comandante militar, disse-me: 'Anda, dou-te boleia, ainda és engolido por isto'. E lá me escapei da laranjada perfumada a incenso e birras. 

 

É o mesmo homem que, passados uns anos, na campanha presidencial que o opôs a Sampaio, se meteu no carro à pressa em Espinho – a minha terra – sem cumprir a agenda que o devia levar ao bairro piscatório, por razões de 'segurança', disseram-me. Teve medo, claro, de que uma peixeira lhe assestasse com um chicharro no frontespício. Para um político é inglório.

 

Três dias depois, Jorge Sampaio cumpria a pé o quilómetro e meio que está de permeio entre o largo da câmara e o bairro, não sem que antes o mandatário distrital do futuro presidente rosnasse umas palavras de reprovação, pegasse ao volante do seu SAAB 900 e rumasse, de carro, ao mesmo lugar que o candidato. Chamava-se Carlos Candal, e era mais ás da caneta do que andarilho. Adiante.

 

Sofri, como qualquer jornalista, os anos de chumbo impostos por um homem que não prezava – e não preza – a liberdade. Encontrei Cavaco já estava eu em Lisboa, de microfone em punho, a ouvi-lo já não me lembro a que propósito, ia sua excelência a entrar no mal amanhado de madeiras e alumínios Centro Cultural de Belém. O segurança empurrou-me. Bateu-me no microfone dos 'erres'. Era um armário bem maior que este homem maneirinho.

 

Desequilibrado mas ainda armado de microfone, retirei os olhos do protagonista e fixei-me no bacamarte. Tanto ou tão pouco, que o próprio Cavaco teve de intervir, com aquele sorriso esquálido que sempre o acompanha, dizendo-me 'mas vamos entrando, que lá dentro falo consigo'. Não falou nada, e o segurança desviou os olhos. Confesso que sempre fui maior de alma que de braços e punhos, mas estive quase a pegar-me com o armário. O gajo riu do meu corajoso topete.

 

Passado uns tempos, chegou Guterres. Para os jornalistas, foi como se de repente passasse a chuva e chegasse o sol. Desanuviou a relação com os media, e bem me lembro de ter a mim próprio imposto cuidado, para não começar a gostar demasiado do nosso novo Primeiro. Porque primeiro está a isenção informativa.

 

Um dia, dou de caras com o tal segurança. Bom profissional, tinha passado de Cavaco para Guterres. Mas já não estava ao lado do chefe do Governo. Estava nas escadas do CCB, sentado, cabisbaixo, a fumar um cigarro. Quase tive pena dele.

 

Enfrentei-o. 'Então, já não tem nada que fazer? Lembra-se de mim?' Ele aquiesceu com um gesto afirmativo e um sorriso. Não se mexeu da posição de sentado. Mas foi dizendo: 'Este não quer que andemos ao pé dele'. Não sei se suspirou de alívio ou de piedade por si próprio.

 

Isto foi logo depois do dia 10 de Junho de 1995, quando Cavaco foi entrevistado na Rádio Renascença, com a qual andava de candeias às avessas, ao tempo. A culpa primordial não era minha, que não tinha estatuto para tanto. Mas lá que ajudei à festa, ajudei, tendo como principais comentadores de economia – o meu pelouro na RR – Alfredo de Sousa e João Salgueiro, que não se ensaiavam nada de lhe dar porrada política com critério...

 

Foi nesse dia que o José Luís Ramos Pinheiro, então director da estação, se saiu com a pergunta que cito quase de cor – porque eu estava lá, no estúdio. 'Neste dia de Camões, de Portugal e das Comunidades, o senhor primeiro-ministro ainda se lembra de quantos cantos têm 'Os Lusíadas''?

 

Cavaco Silva mudou de cor, coçou-se um pouco na cadeira e atirou as 'culpas' da sua falta de ensino para a senhora que lhe faz companhia: 'Sabe, lá em casa essas coisas de português é com a minha mulher', respondeu. Mas não sabia.

 

Foi este o homem que representou Portugal.

 

  

Este texto faz parte dum conjunto de seis testemunhos pessoais de jornalistas que escolheram um momento definidor do que foi, para eles, o político Cavaco Silva. Leia também:

 

#1: As lições de uma ponte, por Pedro Rolo Duarte

#3: A 'trisneta' do Cavaco, por Diana Ralha

#4: A primeira noite de Cavaco SIlva no ecrã, por Francisco Sena Santos

#5: Cavaco Silva em cinco actos, por Pedro Fonseca

#6: Um caso muito interessante, por José Couto Nogueira

 

publicado às 18:25

Pág. 1/4

Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D