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SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

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Não leia que não vale a pena. Afinal, não está a pensar envelhecer, ou está?

Por: Rute Sousa Vasco

Somos hoje uma sociedade de insatisfeitos, de excluídos e de lesados. E, quais ratinhos na roda, parece que não conseguimos sair do mesmo sítio, por muito que todos os sinais nos apontem para uma provável dissonância cognitiva entre o que sabemos e o que fazemos. A forma como decidimos quem é ou não empregável é, provavelmente, um dos espelhos mais óbvios desta dissonância.

 

É assim com os jovens. Serão sempre a próxima geração que vai mudar o mundo, mantêmo-los a estudar e a tirar cursos atrás de cursos mas, quando chega a hora do emprego, temos de lhes oferecer estágios atrás de estágios, muitos não remunerados ou mal remunerados. E, em consciência, defendemos que tem de ser assim porque um jovem não tem experiência. Ou seja, não sabe fazer nada.

 

Considerada de forma isolada, esta visão sobre a entrada dos jovens no mercado de trabalho deveria querer dizer que somos uma sociedade que premeia a experiência. Portanto, profissionais acima dos 40 ou 50 anos não teriam qualquer problema de empregabilidade, porque são eles que as empresas querem para conduzir os seus negócios a bom porto. Na realidade, não é assim. Para muitas empresas, estes são os grupos etários das pessoas cheias de “vícios” e por isso difíceis de “reconfigurar” numa economia que rola cada vez mais rápido e muitas vezes sem nexo. Ah, e também são os grupos etários em que os profissionais já ganham um salário e não um subsídio ou um estágio e o excel dos custos não perdoa.

 

Recapitulemos. Os jovens, enormes promessas que nos fazem ter esperança no futuro, não são elegíveis para lugares pagos com um salário. Não têm experiência, não sabem fazer e terão de cumprir vários anos até que lhes seja reconhecido o estatuto de trabalhador inteiro. Quando lá chegam – para os que chegam a esse estatuto – estão, em regra, entre os 30 e os 35. No melhor dos cenários, têm 10 anos de vida activa plena e reconhecida como essencial pelas empresas e por essa entidade que é o mercado em geral. E depois fazem 40. Quando supostamente já sabem realmente bem o que fazem, já estiveram à prova em várias empresas, funções, contextos, já têm ideias que podem fundamentar, essa é também a altura em que o “sistema”, usando uma expressão cara a tantos, começa a descartá-los. Porque são mais caros, porque têm ideias feitas, porque são mais velhos.

 

Está tudo doido, ou quê?

 

Vivemos hoje numa sociedade que, mercê da evolução da ciência, da tecnologia, do conhecimento em geral, nos promete maior longevidade e melhor qualidade de vida. Vivemos hoje em economias que, entre os grandes buracos negros dos resgates aos bancos e a necessidade de tornar sustentáveis as premissas essenciais do Estado social, antecipam e legislam prolongamento nos anos de trabalho com reformas menores e mais tardias. Mas, na vida real, temos empresas e instituições que na sua maioria não sabem o que fazer nem com os jovens nem quando os jovens ficam mais velhos. Convenhamos que ter apenas uma década de vida activa sem estar nos holofotes da indigência por estágio, desemprego ou reforma antecipada é, no mínimo, caricato.

 

É indiscutível que temos temas de produtividade para resolver, em qualquer uma das faixas etárias – é um problema do país. E é um facto que ensinar e aprender a trabalhar é um processo de grande exigência que tende a ser menorizado. Saber trabalhar não é inato, não vem com os cursos, e se as empresas não estimularem, nem sequer vem com a experiência. Há pessoas qualificadas que podem passar uma vida sem saber trabalhar, mesmo que desempenhem as funções que lhes são atribuídas. A produtividade está, em muito, neste tema mal resolvido.

 

Ontem, o ISCTE foi anfitrião da primeira apresentação de projectos de uma turma muito especial. A primeira resultante de uma iniciativa conjunta com o IEFP em que 100 licenciados desempregados cumpriram um semestre na univerisidade em ações de formação em tecnologias de informação e comunicação. A maior parte destes alunos tinha mais de 40 anos, muitos mais de 50 - ouviu-se, aliás, várias vezes a expressão alusiva aos cabelos brancos. Pelo auditório do ISCTE passaram engenheiros, economistas, sociólogos, psicólogos, biólogos, entre outras formações. Pessoas com experiência, com boas ideias, com vontade, que, mercê uma qualquer reestruturação, ficaram desempregados. E que ontem ali estavam felizes e realizados por terem conseguido provar o que valem.

 

Somos um país tão bem munido de profissionais qualificados que pode assim tão facilmente descartar estas pessoas? Porque são mais velhos? Porque ganham mais? Porque alguns não tinham como saber o que eram redes sociais ou gestão digital quando tiraram os cursos há 20 ou 30 anos?

 

Nos idos anos 90, entrevistei pela primeira vez Belmiro de Azevedo. Foi uma entrevista longa, na Maia, na qual o líder da Sonae percorreu os principais temas dos negócios do grupo e também do país. A minha principal memória desse dia não tem, contudo, nada a ver com isso. Belmiro chegava por essa altura aos 60 anos e a pergunta era sobre sucessão e sobre como vivia a passagem do tempo (eufemismo para envelhecer). Recostado no cadeirão, Belmiro de Azevedo inclinou-se para a frente e apenas respondeu: “Sabe, a idade é a coisa mais democrática que existe. Passa por todos”.

 

 

OUTRAS LEITURAS 

É fim de semana de óscares. Há um no ano inteiro e é este. Vai poder acompanhar tudo aqui com uma janela actualizada ao minuto na homepage do SAPO. Faça-nos companhia.

 

E, parece de propósito num dia em que o tema desta coluna é o emprego: a rede social LinkedIn estreia-se em grande no prime time de tv ao lançar o seu primeiro anúncio no intervalo da transmissão da cerimónia de entrega dos Óscares. O mote da campanha é “You’re closer than you think" e é sobre o emprego dos seus sonhos.

 

publicado às 10:18

Vamos já almoçar?

Por: António Costa

 Manuel Caldeira Cabral é um crente. Em quê? Crente nas promessas dos empresários e gestores da restauração, nas juras de redução dos preços junto dos consumidores e na contratação se o Governo descer o IVA do setor de 23% para 13%. E se tal não suceder? “Ficava preocupado”, diz o ministro da Economia. Pode começar já.

 

A decisão de aumentar o IVA da restauração da taxa intermédia para a taxa máxima resultou, sabemos, de uma imposição da troika e da necessidade de garantir receita fiscal, sobretudo num setor onde a fuga ao fisco era enorme. Era - é hoje menor por causa dos novo mecanismos de controlo e fiscalização como o E-fatura. Mas resultou também num incentivo, à força, para mudança de investimento dos não transacionáveis para os bens transacionáveis, isto é, para a exportação. Porque deixou de existir um benefício artificial, pago por todos nós, os contribuintes. O auto-emprego, o empreendedorismo, foi feito durante anos à custa da abertura de cafés e restaurantes em cada canto. Em 2016, teremos em Lisboa o WebSummit e não é por mero acaso.

 

A receita, claro, aumentou muito, o emprego diminuiu, sim, mas também surgiram nos últimos quatro anos alguns dos projetos e iniciativas mais criativas e inovadoras do setor. Novas cadeias de restauração, que concorrem com marcas internacionais, como o H3 ou a Padaria Portuguesa, e restaurantes de nível internacional, como os do chef Avillez. O setor é hoje mais cumpridor das suas obrigações fiscais, é sobretudo mais sofisticado, com novos modelos de negócio.

 

Portanto, a promessa do PS e que o ministro da Economia diz agora querer cumprir – sim, já sei, este governo cumpre – serve apenas para satisfazer uma corporação que deu muitos votos, a da restauração. Mas a promessa do Governo, na verdade, vai mais longe, e convém sublinhá-la. O governo vai descer o IVA na restauração e a restauração vai descer os preços e vai contratar.

 

Um ponto prévio. Caldeira Cabral mostrou, nesta entrevista ao jornal Público de domingo, que é mesmo um ministro independente. Construtivo em relação ao que o anterior governo fez, sem a preocupação de reverter, nem que seja na linguagem. E com uma visão acertada da função. Dito isto, é ministro, tem compromissos, ou melhor, tem de cumprir os compromissos do partido ao qual aceitou juntar-se. É o preço a pagar, mesmo que não concorde com eles. E será provavelmente o caso.

 

Caldeira Cabral acredita que o setor vai baixar os preços, e é por isso que vai descer o IVA. Sabe, o ministro, que nunca isso sucedeu quando o IVA baixou? Sabe, claro, que as descidas do IVA são sempre, nos setores de bens não transacionáveis, uma transferência de riqueza entre contribuintes e servem basicamente para aumentar as margens dos empresários do setor.

 

Depois, surge sempre o emprego, a outra razão para descer o IVA. Como o setor perdeu milhares nos últimos anos, só pode ter sido por causa do IVA, certo? Errado. Os preços não aumentaram, como mostram os dados da inflação, por isso, a quebra do consumo deveu-se à quebra de rendimento dos portugueses em geral. Agora, com o IVA à taxa intermédia, os preços não vão baixar, talvez aumente o consumo por causa da aumento do rendimento dos portugueses, via salários da função pública e redução da sobretaxa. Como não resultam da produtividade, veremos os resultados a prazo, nomeadamente na frente externa, mas, no curto prazo, poderá ter até efeitos positivos.

 

Agora, o que quer o Governo? Com todo o respeito pelos empregados da restauração, não é aí que Portugal precisa de mais emprego, não é nas profissões menos qualificadas, como é o caso. Os que caíram no desemprego têm de ter formação profissional, muita, para uma integração profissional, sim, mas noutros setores, mais necessários e com outro valor acrescentado para a economia.

 

É melhor deixar as declarações de ‘preocupação’ para trás, sobretudo porque, depois, não faz sentido deixar cair ameaças ao setor porque tem a tutela do consumidor e da concorrência. É melhor começar já a preocupar-se com as explicações que terá de dar, depois, aos portugueses por falhar uma promessa.

 

 

ESCOLHAS

 

Finalmente, entramos na última semana das presidenciais e, se os votos ajudarem, na próxima segunda-feira, estará escolhido o sucessor de Cavaco Silva. Como se antecipava, o que não foi esclarecido na pré-campanha e nos debates não seria clarificado nas arruadas e comícios, que servem mais para mobilizar votantes do que para informar eleitores. Os dados estão lançados, Marcelo Rebelo de Sousa, aposto, ganhará à primeira volta. Não pelo que fez no último mês, pelo que construiu nos últimos 20 anos. E também pode agradecer a António Costa que, ao permitir que o PS não apoiasse ninguém à primeira volta, está a criar um caldo interno difícil de gerir. Veremos se as divisões violentas dos últimos dias, entre apoiantes de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, até entre ministros, não vão para além das presidenciais. Qualquer que seja a sua decisão, vote.

 

E, para terminar, sabe quantos turistas usaram a plataforma Airbnb em 2015 para se instalarem em Portugal? Cerca de um milhão, o dobro de 2014. A Airbnb é uma plataforma digital que só em Portugal tem registadas mais de 34 mil casas de todos os tipos. Os números são dados pelo diretor-geral ibérico da empresa, Arnaldo Muñoz, em entrevista ao jornal Público, que pode ler aqui.

publicado às 10:57

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