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SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

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Uns para os outros

 

Por: Pedro Rolo Duarte

 

Desde que José Cid, num programa de rádio onde o entrevistei, em conjunto com o João Gobern, disse (e não estava a brincar…) que, se tivesse nascido em Inglaterra, era mais popular e amado que Elton John, porque acha que o inglês, ao pé dele, é artista de segunda, percebi todo o universo de Cid. As letras das favas e do chouriço e das bananas, a pose, a atitude em palco, e acima de tudo uma série de parafusos a menos.

 

Entrou na prateleira dos inimputáveis - dizem o que lhes passa pela cabeça, em geral ninguém presta grande atenção. Faz companhia a figuras como Alberto João Jardim, para citar apenas o mais óbvio.

 

Não me surpreendeu, por isso, a polémica instalada esta semana - mas pelos vistos em cima de uma entrevista que deu há alguns anos… - entre ele os transmontanos. Como não me surpreendeu a resposta trauliteira nas redes sociais (a ele e ao desgraçado do Nuno Markl, apanhado de lado sem culpa alguma…), que pelos vistos estão cheias de pequenos José Cid’s. Pessoas que usam a impunidade do anonimato para destilarem a bílis e fazerem das caixas de comentários, como alguém disse, o esgoto da internet. Ou seja, pessoas que estão bem para o José Cid, e vice-versa.

 

Porém, convém não confundir a mensagem com o meio. Não acho que as caixas de comentários sejam, em si, canos de esgoto. São o reflexo das tensões, dos ódios, das frustrações, que todos temos - e tanto servem para intoxicar a rede como para a limpar, nos momentos mais doces (basta Portugal marcar um golo no europeu…). Cada um de nós usa-as de acordo com a sua formação, os medicamentos que toma, ou apenas o bom senso, ou falta dele, que possa ter. São uma praça publica sem filtro, sem regra, sem controlo. Não consigo criticar aquilo que constituiu, no começo, a mais-valia da internet: o caos que resulta da liberdade total. Claro que tudo tem um preço, e quando o caos se transforma em difamação, mentira, plágio, ameaça, já há leis gerais que se aplicam - mas a tentação de regular mais e apertar a malha é grande. Sinceramente: isto é o que me preocupa mesmo quando sucedem casos como o de José Cid. É que estes casos são pontas de cigarro acesas na floresta dos que querem controlar, regular, legislar, e no fim de tudo censurar, o que é publicado na rede.

 

A tentação é grande e todos já a sentimos na pele. Um exemplo pessoal: sou admirador confesso do humor do João Quadros e do Bruno Nogueira - mas quando ouvi na rádio as crónicas que assinaram, há uns anos, na sequência da morte e da cremação do jornalista Carlos Castro, fiquei chocado. Mexeu comigo. Foram longe demais em relação à minha sensibilidade. A reacção imediata foi clara: “isto não devia ter ido para o ar”. Mas passados uns minutos, caí em mim e perguntei-me: quem sou eu para dizer que não devia ir para o ar, se sou o mesmo que defendo que o humor não tem limites?

 

Vejo agora Bruno Nogueira defender Nuno Markl e gosto do que vejo. Mas na verdade não andamos muito longe uns dos outros. Seja o Cid, o Bruno, ou o anónimo trauliteiro. A lógica é a mesma e tem uma frase popular que a define: “quem vai à guerra, dá e leva”. O Cid insultou os transmontanos, levou que contar. À medida e da mesma forma rasca e ordinária que usou para os gozar. Como se costuma dizer nos pátios das escolas: estão pagos. Uns com os outros. O único risco é que parvoíces desta natureza possam servir para limitar a liberdade de todos e de cada um. E isso já não tem graça alguma.

 

Leituras obrigatórias esta semana:

 

Basta verem a assinatura da entrevista para perceberem quão suspeita é a minha sugestão - mas mais do que o trabalho em si, sublinho uma história de vida incomum, daquelas que dava um filme para Oscar e tudo. Não conto mais nada…

 

A arte da entrevista tem que se lhe diga. Em Portugal, desde há uns anos, a jornalista que melhor tem tratado este formato nobre do jornalismo é indiscutivelmente Anabela Mota Ribeiro, nas páginas do Público. Boa parte do seu trabalho está felizmente disponível no blog que criou, o que nos permite recuperar conversas extraordinárias, diálogos ricos e saborosos, e uma variedade de personalidades que nos alargam horizontes. É bom passear por ali...

 

Há notícias que, por serem recorrentes - atentados nos países árabes, por exemplo - nos escapam por entre os dedos da mão. Felizmente, analistas como o espanhol Alberto Priego, vê mais longe - ou como costumo dizer, “vê mosquitos na outra margem”. Aqui, nesta análise sobre um atentado, no Iraque, cometido durante a final da Liga dos Campeões, coloca em cima da mesa a relação entre o desporto, a diversão, o ócio, e o que pensam sobre isso os fundamentalistas árabes…

 

publicado às 14:07

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