Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

Costa quer aterragem forçada na TAP

Por: António Costa

 

Qual foi o acontecimento económico do ano de 2015? Apesar do choque-Banif, a marca do ano que termina esta semana é a privatização da TAP, uma operação que começou há 19 anos e foi, finalmente, fechada na 25ª hora, no limite das forças financeiras da companhia. E António Costa parece querer voltar a pôr a TAP na lista do próximo ano.

A privatização da TAP nunca foi uma questão ideológica: passou sucessivos governos, do PS e do PSD, e ainda mais ministros. Começou, aliás, pela mão de Jorge Coelho, mas a falência da Swissair acabou com um negocio antes de o ser. De então para cá, a situação financeira da TAP degradou-se de tal forma que chegou a Novembro deste ano em rutura de tesouraria. Em risco de não pagar salários se não fosse fechada a privatização assinada em Junho, a venda a Humberto Pedrosa e David Neeleman, e se não entrasse dinheiro fresco na empresa. Entraram 180 milhões de euros de um total de 320 milhões previstos até ao final de 2016. E pela primeira vez em anos, a TAP tem um dono ativo, faz investimentos e tem estratégia.

A privatização da TAP deveria ter sido feita mais cedo, sim, os últimos contratos com a banca foram assinados no dia seguinte a o governo de coligação PAF ficar em gestão e com um novo governo pré-anunciado. E isso é terreno fértil para a demagogia e para o populismo. António Costa queria manter a maioria do capital da empresa em mãos do Estado, mas isso era uma proposta inverosímil, simplesmente porque nenhum investidor estaria disposto a pagar para o Estado mandar. E era preciso pagar muito. Agora, depois do negocio feito, essa promessa é ainda mais deslocada, mas o primeiro-ministro assumiu a estratégia do ‘a bem ou a mal’. Só pode correr mal, claro, como se não bastassem os problemas que o país tem, nomeadamente os dos bancos.

Afinal, que perguntas faz Costa para justificar a possibilidade de reversão do negócio? Há mitos criados pelos sindicatos da companhia, que alimentam a associação liderada por António-Pedro Vasconcellos, que não correspondem à verdade, como a exigência de visto prévio do Tribunal de Contas, por exemplo. Mas, em entrevista ao JN, fez três perguntas: Como, quanto e quem investiu na TAP? Costa sabe, mas podemos aqui esclarecer os nossos leitores.

Como, quanto e quem? A reputação de David Neelman no setor da aviação permitiu que a TAP deixasse cair a encomenda de aviões A350 por 53 aviões A321 e A330, mais adequados à nova estratégia da companhia e, com isso, a Airbus libertou um crédito antecipado de 150 milhões de dólares que já entrou na empresa. Será isto que o primeiro-ministro quer pôr em causa? A que propósito?

Foi esta credibilidade que permitiu fazer o que o Estado – como acionista – e a gestão de Fernando Pinto não conseguiram, até porque a Airbus já temia, pelo contrário, o incumprimento dos compromissos financeiros assumidos anteriormente.

Há, depois, a palavra dos reguladores, a última, particularmente da ANAC, que tem de apurar se a privatização respeita a lei e se isso permite a concessão da licença aérea à TAP (e à Portugália, que faz parte do grupo TAP). Também aqui, há mitos – leia-se mentiras – no ar. A ANAC nunca chumbou o acordo, deu um parecer prévio positivo e pediu alterações aos estatutos da empresa de acordo com a nova estrutura acionista. E mais de 50% do capital tem de estar nas mãos de acionistas europeus, coisa que explica, claro, o aparecimento de Humberto Pedrosa no consórcio. Mas então, o problema é que o consórcio respeita a lei?

A posição de força de António Costa só pode ser explicada por despeito, por não aceitar que os novos donos, legítimos, tenham dito aos emissários do Governo que não estavam disponíveis para negociar, apenas para cumprir o que estava assinado com o Estado português. A posição de força deveria resultar do incumprimento dos compromissos do acionista privado, do fecho de rotas, da diminuição de voos, da mudança do hub de Lisboa. Ora, se Pedrosa e Neeleman estão a fazer o que assinaram, Costa deveria agradecer.

 

ESCOLHAS

 

A história do Banif ainda não está toda contada, e Jorge Tomé, o antigo presidente executivo do banco, fez acusações duras a Carlos Costa, o governador. Já sabemos que o contribuinte vai pagar muito, até 3,6 mil milhões de euros, para salvar um banco que não valia 3% do mercado, um valor astronómico. E vamos ver o que sucede ao Novo Banco, outro caso que se arrasta e que, como se sabe, precisa de mais de 1,4 mil milhões de euros de capital. O pesadelo financeiro ainda não acabou. Até quando?

 

Enquanto a banca tenta resolver os seus problemas, o mundo dos conteúdos anda em sentido contrário. Depois do acordo da NOS com o Benfica, a PT Portugal/Altice chega a acordo com o Porto por 457 milhões de euros, incluindo os direito televisivos, a distribuição do Porto Canal e a publicidade na camisola. O que acontece, agora, aos clubes mais pequenos? Leia o artigo do Público aqui no SAPO24.

 

Boas entradas em 2016, volto para a semana com as previsões para o próximo ano.

 

 

publicado às 10:44

Radicalismo ideológico. Ou pior

Por: António Costa

 

António Costa entrou numa lógica de destruição criativa difícil de perceber, pelas consequências da destruição, pela incerteza da criatividade. Anuncia que o Estado vai passar a controlar 51% da TAP “a bem ou a mal” e faz saber, anonimamente, que vai acabar com o Banco de Fomento que está finalmente em condições de começar a financiar a economia. São apenas dois exemplos, há mais, de radicalismo que só pode ser ideológico. Ou pior.

 

Não deixa de ser uma ironia que o primeiro-ministro que assentou a sua estratégia eleitoral no discurso do radicalismo da coligação PSD/PP faça da sua atuação um manual de intervenção radical. E por vontade própria, porque o BE e o PCP também têm as costas largas. Num caso e noutro, só por ideologia se pode entender a estratégia do Governo, em nenhum deles há um fundamento económico, financeiro ou sequer estratégico, simplesmente porque ninguém sabe o que Costa quer fazer a seguir, desconfio, nem sequer o próprio.

 

A TAP tem finalmente um acionista que gere a empresa, define um caminho e, sobretudo, investe na companhia. Já meteu 180 milhões de euros e no próximo ano tem de pôr mais 180 milhões. A dupla Pedrosa/Neelman já fez mais pela TAP em semanas do que o acionista Estado em anos e anos. E a TAP que tem um acionista privado maioritário pode fazer mais pelo país do que fez em décadas de controlo público a 100%.

 

Então, porque é que Costa faz uma ameaça venezuelana como fez, ao dizer que o Estado vai ficar com o controlo maioritário a bem ou a mal? Se o primeiro-ministro tem alguma informação que não revelou publicamente, nomeadamente sobre a legalidade do negócio que foi feito, não poderia sentar-se à mesma mesa com Pedrosa e Neelman, teria simplesmente de requerer a anulação do negócio. Como tentou a negociação, disse-o publicamente, a resposta só pode ser de uma de duas, despeito ou ideologia. O despeito passa, a ideologia não, sobretudo porque, depois, é preciso pôr dinheiro em cima da mesa, para a TAP devolver o dinheiro que já recebeu e, sobretudo, para capitalizar uma empresa que tem 580 milhões de euros de capitais próprios negativos. Como se o Estado não tivesse problemas (financeiros) que cheguem.

 

Agora, o caso do banco de fomento não é menos problemático. Ainda não houve uma palavra pública, mas também não houve qualquer clarificação ou desmentido à notícia do Expresso sobre o fim da Instituição Financeira de Desenvolvimento. Mal ou bem, e considerei desde o primeiro dia que o banco de fomento não era a melhor solução, o Estado investiu mais de um ano de negociações com a Direção Geral da Concorrência europeia para ter uma instituição grossista – leia-se, que contratualiza apoios às empresas através dos bancos – de financiamento da economia.

 

Depois de muitos avanços e recuos – alguns difíceis de entender -, de trabalho de casa que ainda não estava feito, o presidente José Fernando Figueiredo já tem finalmente condições para carregar no botão. Só falta o mais importante, o ‘ok’ do novo governo que, pelos vistos, não vai surgir. Mesmo do ponto de vista puramente político, acabar agora com o banco de fomento é um erro, porque qualquer novo caminho de uso dos fundos comunitários exige tempo de negociação com Bruxelas. Dito de outra forma, o acesso a financiamento e sobretudo a capital vai demorar. Mais. E sem alternativa.

 

Na TAP, como no banco de fomento, Costa muda por más razões, destrói o que está sem construir uma alternativa melhor, afeta a imagem do país junto dos investidores internacionais e coloca pressão sobre o Estado e as empresas desnecessariamente. Radicalismo ideológico. Ou pior.

 

As escolhas

 

Se na TAP e no banco de fomento, António Costa está a fazer escolhas, a única escolha possível no Banif era saber quem pagaria a fatura, os contribuintes ou os depositantes e obrigacionistas. E o primeiro-ministro escolheu os primeiros e poupou os segundos, a menos má. O Estado já tinha metido 700 milhões de euros de capital e emprestado 400 milhões, dos quais 125 milhões ainda não tinham sido devolvidos. Agora, por 150 milhões de euros, o Estado vende ao Santander o que de melhor tinha o Banif – depósitos e créditos – e o que o banco tinha de pior – os ativos tóxicos – fica num veículo autónomo, debaixo do controlo do Estado. Foi uma venda com resolução, só que as contas não ficam por aqui.

 

Para que isto fosse possível, o Estado tem de meter mais 2,255 milhões de euros, dos quais 487 milhões do Fundo de Resolução, para capitalizar a parte que vai para o Santander. É preciso acrescentar que os acionistas perdem tudo, até ao último cêntimo. O Banif morreu, os clientes e a estabilidade do sistema estão vivos, António Costa deu a cara, ao contrário de Passos e Maria Luís. Vão dar agora, numa comissão de inquérito, para explicarem porque é que um banco que não tinha problemas de supervisão, de rácios, de almofadas financeiras, acaba a ser vendido assim, à pressa.

 

E em Espanha, pode acompanhar aqui no SAPO24, a grande confusão. O PP ganhou, mas sem maioria absoluta, o PSOE e o Podemos perderam, mas juntos têm mais deputados. Onde é que já vimos isto?

publicado às 10:23

Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D