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Alguém já viu os boletins anti-abstenção?

Já viu os novos boletins de voto, com a categoria “não respondo”? Eu também não. Mas gostava de ver, e já nas legislativas de Outubro. 

 

Por: Marisa Moura

Alguém já viu os boletins anti-abstenção?

 

 

Boletins há muitos por este mundo fora – desde as nossas simples folhas para assinalar uma cruz, passando pelo colorido caderno suíço, o voto online holandês ou o boletim-borboleta de Palm Beach, com furinhos, que agitou as presidenciais norte-americanas em 2001. Eu gostava que os nossos interpelassem todos os eleitores, incluindo aqueles que não se revêem em nenhuma das opções listadas: a tal maioritária “abstenção” que atingiu os 42% nas últimas legislativas, de 5 de Junho de 2011. Estava Portugal há três semanas sob o Programa de Assistência Financeira (PAF) da troika quando 2,2 milhões de eleitores, perante uma lista de catorze possibilidades, puseram a cruz no PPD/PSD, e este faria governo coligado ao CDS/PP (654 mil cruzes, versus 1,6 milhões do PS), até agora.

  

Com os actuais boletins, quem não se revê em nenhuma das candidaturas, que se lixe nas eleições! Abstenha-se (os tais 42% das últimas legislativas). Ou remeta-se ao silêncio (2,7% de votos brancos). Ou vandalize o boletim (1,4% de nulos). Isto não faz sentido nenhum. Nem do ponto de vista da urbanidade, nem da democracia, nem da comunicação, nem sequer da segurança. Se não assinamos documentos em branco, por que havemos de deixar em branco a nossa declaração de voto? Se “tagar” o espaço público dá coima até 25 mil euros, por que é que o Estado nos induz a vandalizar o boletim? Se qualquer estudo de mercado apresenta ao inquirido as hipóteses “não sei” e “não respondo”, por que é que o questionário-magno da Democracia nos desconsidera com essa omissão?

 

Bem sei que há desígnios mais prementes (nomeadamente instaurar o tal sistema em que possamos votar em pessoas em vez de partidos, e com primárias, como António Costa começou a implementar no PS), mas enquanto a revolução não arranca (falamos dos círculos uninominais há uns trinta anos), procedamos aos aquecimentos. Revejamos os boletins! Urge a sensação de que algo realmente mudou nesta Democracia após quatro anos de PAF. Assim, mesmo que, em Outubro, continuem no poder os partidos do actual governo (que vão a votos coligados sob a graça de PAF – Portugal à Frente), a posteridade terá uma marca distintiva neste plebiscito realizado dezassete meses após o PAF (o da troika, findo em Maio de 2014).

 

A forma como os boletins de voto comunicam com os eleitores portugueses é, no mínimo, deselegante. Com a agravante de sermos dos países mais abstencionistas da Europa. Entre os 28 estados-membros da União Europeia, fomos o oitavo maior abstencionista nas europeias do ano passado, com 66% de abstenção, numa média de 57,4% – com a Bélgica e o Luxemburgo entre os maiores votantes, porque aí, tal como em cerca de 30 democracias terrestres, votar é obrigatório. Boletins que comuniquem com todos os potenciais eleitores, precisam-se!

 

O abstinente declara oficialmente o seu descrédito e poupa-se ao estigma do “Com que então foste para a praia, hein?”, que também inquina a Democracia – apesar de já ter sido demonstrado que a meteorologia não interfere linearmente com a adesão às urnas, estando as causas mais ligadas à iliteracia, à actualização dos cadernos eleitorais (a Comissão Nacional de Eleições assinala 9,6 milhões de “inscritos” em 2011 quando a população residente no país, com mais de 15 anos, era de 8,9 milhões, e só votam os maiores de 18 anos) e aos eleitores emigrados (abstiveram-se 83% dos residentes no estrangeiro). Não sendo a abstenção tão alta como se pinta, adivinham-se, todavia, disparos entre os emigrantes, dada a histórica debandada desde 2011, com o início do PAF.

 

Dará brado mundial a iniciativa portuguesa contra a abstenção, dada a pertinência internacional do fenómeno e o fraquinho dos editores por estas “histórias giras”. E ainda melhor imprensa teremos se incluirmos algum merchandising na acção. Quem vota, recebe uma caneta com uma inscrição do estilo “Eu escrevo a história de Portugal”. Até pode ser simbólica, em papel, para marcar livros. Algo mudaria nas nossas eleições. No mínimo haveria um certo buzzzzz, já que as políticas parecem continuar as mesmas.  

 

Marisa Moura, autora do livro “O que é que os Portugueses Têm na Cabeça?”

publicado às 09:10

2 comentários

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    Alberto 15.08.2015 00:16

    Lá contar, não contam para nada. Excepto para o financiamento partidário (com dinheiros públicos), pois são contabilizados e proporcionalmente distribuidos pelos partidos com direito a esse financiamento (cada voto vale mais de 12 euros, actualmente). Porque acha que os políticos apelam com tanta veemência ao voto? Mesmo que vote em branco, ou nulo, uma percentagem desse dinheiro vai-lhes parar aos bolsos!
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