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SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

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Não é como acaba. É como começa.

Por: Rute Sousa Vasco

 

Não, não é um engano. A frase-talismã da selecção portuguesa virada do avesso é perfeita para retratar aquilo a que estamos a assistir por estes dias na Europa das nações. A sucessão de declarações infelizes, a falta de vontade para o consenso, as velhas intrigas e rivalidades postas a nu. Começa assim, começou sempre assim. É uma espécie de semente danada à qual anos de história em comum não chegaram para pôr cobro e a que anos de história de suposta união deram a ilusão de tudo estar sanado. Não está.

 

Com a particularidade de que hoje o Velho Continente está, efectivamente, velho, e que o mundo se tornou, efectivamente, plano. Todos estamos com todos em todo o lado – mas somos cada vez mais desiguais. Com resquícios da Europa aristocrática da 1ª Guerra Mundial e com mais do que resquícios da Europa desagregada e deprimida da 2ª Guerra Mundial.

 

Façamos uma breve e não exaustiva revisão da matéria dada na última semana do curso Como destruir a Europa em 28 capítulos (agora já são 27).

 

Na terça-feira, dia 28 de Junho, o Parlamento Europeu viveu uma das suas sessões mais animadas de sempre. Foi votada a resolução que pede a saída imediata do Reino Unido da União Europeia. Nigel Farage exibiu a proa ufana de vencedor (perdoem-lhe, que a ignorância é mesmo atrevida) e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, perguntou-lhe, sem meias medidas, "o que estão aqui a fazer?". "Estão em negação de que a vossa moeda está a falhar, o vosso projecto político falhou", retorquiu Nigel Farage.


Houve vaias e houve palmas e teria sido divertido se não fosse trágico.

 

Na quarta-feira, dia 29, o nosso velho conhecido ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, atirou para o ar que Portugal deve pedir um novo programa de resgate. Não parece próprio de um alemão não saber exactamente o que quer dizer e menos ainda corrigir-se em poucos minutos, mas foi o que aconteceu. Schäuble voltou atrás e declarou que o Governo português pode não precisar de voltar a pedir ajuda desde que cumpra as regras. Tudo isto acontece enquanto o grande banco alemão, Deutsche Bank, mete água por vários buracos. Diz o FMI: “o Deustche Bank é a instituição financeira com maior risco no mundo enquanto fonte potencial de choques externos ao sistema financeiro”. O que dá a toda a cena europeia aquela ambiente acolhedor de orquestra do Titanic que não pára de tocar.


Hoje, dia 1 de julho, a Eslováquia assume pela primeira vez a presidência da União Europeia. Na segunda-feira, dia 27 de junho, o partido eslovaco de extrema-direita LSNS lançou uma campanha para recolher assinaturas para um referendo que consulte o povo sobre a saída do país da União Europeia. É o mesmo partido que obteve 8% nas eleições legislativas de Março e que, segundo podemos ler no Público de hoje, tem um líder, Marian Kotleba, governador da região de Banská Bystrica, que chama "parasitas" aos ciganos. Já o primeiro-ministro, Robert Fico, fez a sua campanha de reeleição tendo como lema “nem um único imigrante muçulmano”. Hoje discursa ao lado de Juncker sobre os desafios da Europa e nos próximos seis meses a presidência eslovaca continuará a ter a crise dos refugiados como um dos grandes temas da agenda europeia.


É caso para usar a frase-cliché da época balnear de 2016, entre adolescentes e não só: está tranquilo, está favorável.


Também hoje, dia 1 de julho, chegou a notícia que confirma a repetição das eleições presidenciais na Áustria, na sequência de uma decisão sem precedentes do Tribunal Constitucional em resposta ao recurso apresentado pelo partido FPO do candidato de extrema-direita, Norbert Hofer. O ecologista Alexander Van der Bellen venceu as eleições de 22 de Maio por 30.863 votos de diferença em relação a Hofer. Agora, em resposta à alegada existência de irregularidades, os austríacos vão ser chamados de novo a votar. "Se as eleições forem canceladas será uma desgraça", tinha dito ao semanário Österreich o ministro do Interior, Wolfgang Sobotka.


Há uma semana estávamos sob o efeito do choque Brexit. Uma semana depois, como podemos ver, a Europa tem um menu muito mais diversificado de problemas para nos oferecer, distrair e entreter. E de acidente democrático em acidente democrático, cá vamos andando e acreditando que a história não se repete.


Dizia Frank Underwoord que as eleições, e de certa forma a democracia, são sobrevalorizadas. Mas claro que isto é só na ficção.


Tenham um bom fim de semana!

 

Outras sugestões:

E o Facebook baralha e volta a dar de novo. Depois do namoro, em 2015, às marcas de media, nomeadamente com a sedução dos instant articles (conteúdos jornalísticos publicados directamente nas páginas do Facebook), o gigante das redes sociais anuncia agora uma mudança de algoritmo de forma a dar mais importância nos murais dos utilizadores aos posts publicados por família e amigos em detrimento dos que são partilhados directamente pelos meios de comunicação social. Se atendermos ao volume, cadência e irrelevância seguidas por algumas estratégias de social media, não podemos propriamente levar-lhes a mal. E já agora, ajuda a que nos lembremos que o Facebook é uma empresa privada que define as suas próprias regras.

Quando falarmos de futuro, vamos lembrar-nos dele. Alvin Toffler, o autor de livros como Choque do Futuro e A Terceira Vaga (entre tantas outras coisas que fez na vida) morreu ontem aos 87 anos. Obrigada ao futurólogo que primeiro quis ser poeta.

Hoje, sexta-feira, é dia de dizer adeus a dançar aos Buraka Som Sistema. O concerto é gratuito e tem lugar junto à Torre de Belém, às 22h00. Se gosta, não perca; se não conhece, tem aqui provavelmente a última oportunidade de ver ao vivo a banda que assume ter ajudado a criar “uma identidade musical nova para Lisboa”.

 

 

 

publicado às 15:02

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