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Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

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O imbróglio

Por: Francisco Sena Santos

 Esta campanha eleitoral portuguesa está desgraçadamente vazia de ideias e de futuro, empurra ainda mais para o desapego ao modelo que estes políticos usam para fazer política e segue enganadora. O primeiro equívoco na campanha é o seu fim: sendo que se destina, primeiramente, a eleger deputados, de facto quase ninguém sabe o que pensam os deputados a escolher. O que sobretudo nos aparece é a escolha entre Passos e Costa sobre qual deles vai ser o próximo primeiro-ministro. Passos esconde o que tenciona fazer e Costa não consegue convencer e explicar. Não espanta, mas desgosta, que a força com maior expressão no próximo domingo venha a ser a dos que não votam.

 

Quanto a ideias mobilizadoras em discussão na campanha, zero. Nicolau Santos resumiu com precisão o que se passa: “da direita à esquerda só se discute o PS” e o programa da coligação PSD/PP “não se discute porque não existe”.

 

Há omissões que, ao persistirem, nos deixam a pensar que esta campanha não é mesmo para levar a sério. Uma delas é a questão europeia. O que já penámos nos últimos anos mostra-nos a todos como o fulcro de muito da decisão política sobre a nossa vida está agora fora de Portugal, está sobretudo entre Berlim e Bruxelas. E, no entanto, dos candidatos a chefe do governo, nada ou quase nada sobre a União Europeia.

 

Ainda menos sobre política externa em geral, um domínio em que Portugal já soube jogar bem as cartas. Sobre a crise dos migrantes ou refugiados, nem uma ideia. Sobre a relação complexa com os países lusófonos, idem. Também o vazio total sobre a nossa vizinhança a sul e sueste, a bacia do Mediterrâneo e parte do centro e norte de África que são um vulcão em erupção, com países em implosão, fronteiras em deslocação, terroristas em expansão, máfias à solta, guerras e revoltas que se multiplicam e, em consequência desta tragédia, as migrações maciças para as quais estamos agora a despertar. Mas não se trata isto na campanha.

 

Nem sequer a articulação ibérica toma um minuto nos palcos dos que se propõem chefiar o próximo governo português, sendo que de Espanha sopra e está para soprar o vento de muita movimentação política: no próximo trimestre há eleições gerais (com a forte probabilidade de fragmentação do alinhamento partidário) e já está em cima da mesa o imbróglio catalão.

 

Neste domingo ficámos a saber que a intenção dos independentistas catalães de fazer nascer, em ano e meio, unilateralmente, um novo Estado republicano na Europa, esbarra na falta de votos. Os muito heterogéneos partidos independentistas ganharam as eleições para o governo catalão (têm 72 dos 135 deputados) mas, com apenas 47,75% dos votos, perderam o plebiscito testado. Os 52,25% de votos catalães dentro do campo constitucionalista espanhol são um fracasso para os republicanos independentistas. Mas o imbróglio está inflamado quando, numa comunidade autónoma que representa 20% do PIB espanhol e 15% da população de todo o reino, os cidadãos catalães estão tenazmente divididos em duas metades sobre a rutura com o Estado espanhol. Tem havido, de parte a parte, entre o governo de Madrid e o da Catalunha, demasiados egoísmos, intransigências, agravos e desprezos, em vez do necessário diálogo e procura de compromisso. E a coisa tem alastrado para a cidadania. O sistema político do reino de Espanha parece ter evoluído para gerar pequenas nações que se enfrentam com o seu nacionalismo em vez de cumprir a ambição de uma Espanha plural. Vai ser preciso que se entendam para que saiam da rota de colisão, tem faltado sabedoria política.

 

Há outros dados a reter ainda nestas eleições catalãs: houve uma causa, os eleitores sentiram-se mobilizados, votaram de modo maciço, 76,7% num mapa com mais de quatro milhões de recenseados; um partido, Ciudadans, fora do tradicional sistema PSOE/PP, com mensagem positiva, tornou-se alternativa para muitos eleitores PP, e passou de 7,5 para 19%, enquanto o PP caiu, na Catalunha, de 13 para 8,5%.  Há que ter em conta Inés Arrimadas, 34 anos, líder de Ciudadans na Catalunha. Também Albert Rivera, líder nacional de Ciudadanos em Espanha. Rajoy deve estar preocupado com a escalada deste movimento no centro-direita. Em contrapartida, à esquerda, Podemos, de Pablo Iglesias, parece perder fôlego.

 

VALE TER EM CONTA

 

O que diz Cebrián sobre o futuro do jornalismo: A internet está cheia de mentiras, calúnias insultos e estupidezes, tantas como às vezes dizem na vida real alguns políticos.

 

Também no El País, recuperar esta entrevista com António Lobo Antunes. Eterno citado para o Nobel.

 

Um debate notável na France 2, canal da televisão pública francesa: o primeiro-ministro Manuel Valls confrontado ao longo de duas horas e meia num debate que incluiu um civilizado frente a frente entre o ex-primeiro-ministro de direita François Fillon e o atual chefe do governo socialista. A espreitar também aqui.

 

John Boehner, speaker dos republicanos na Câmara dos Representantes dos EUA, anunciou a renúncia ao cargo, 24 horas depois de se ter emocionado a receber o papa Francisco. Deve estar farto dos ultras que crescem na direita republicana.

 

Paulo Sousa, depois de, como futebolista, ter sido bicampeão europeu de clubes, agora, como treinador da Fiorentina, foi a Milão ganhar, 4-1, e lidera o campeonato italiano. Tem um belo projeto, lê-se na Gazzetta dello Sport. Fiorentona!, exclama o Corriere dello Sport.

 

A melhor primeira página de hoje no SAPO JORNAIS. Escolho esta. Estará aí alguém, em Marte?.

publicado às 08:06

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