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SAPO24 Crónicas

Todos os dias um olhar mais atento a um tema que marca a actualidade. Artigos, análises e crónicas exclusivas no SAPO24.

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Isto não vai ser bonito

Por: António Costa

 

 Quem foi jornalista, nunca deixa de ser jornalista e Paulo Portas faz jus a esta regra. Inaugurou uma nova forma de fazer política, faz perguntas, de retórica, aos eleitores, algumas delas arriscadas, sobre políticos e sobre politicas: quem preferem para gerir as finanças, Maria Luís ou Centeno? Estará Portugal em altura de correr riscos? Falta a pergunta para a última semana de campanha: o que é que o PAF e o PS têm de fazer para ganhar as eleições de 4 de Outubro?

 

As sondagens e as ‘tracking pools’ dão vantagem à coligação, umas mais do que outras, mas também apontam um elevado número de ‘não sabe/não responde’ e mais de 20% de indecisos, seja em votar, seja em quem votar. É uma massa de eleitores que vai decidir quem será o próximo primeiro-ministro. Portanto, a coligação e o PS têm de afinar o discurso, as promessas políticas ficam para trás, as medidas e a estratégia também; agora, vamos entrar na semana da política pura e dura. E não vai ser bonito.

 

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas percebem que a sua margem de crescimento eleitoral está limitada pelo ‘partido do Estado’, os funcionários públicos, os pensionistas, que passaram a ter uma vida pior do que a que tinham. Era inevitável, simplesmente porque tinham uma vida financiada com dinheiro dos outros. Mesmo assim, para estes grupos, isso é irrelevante, e continuam zangados com os partidos do Governo, e muitos deles votaram no PSD e no PP em 2011.

 

Passos passou quatro anos a dizer que a distribuição dos sacrifícios estava a ser equitativa entre os setores público e privado, os cortes eram transversais a toda a sociedade. E foram, porque se houve cortes no sector público, houve muito desemprego no setor privado. Agora, em campanha eleitoral, está a corrigir o tiro. Porquê? Porque o crescimento da economia – o principal trunfo eleitoral - permite que o setor privado recupere parte dos cortes que sofreu, os salários começam a aumentar e o desemprego a cair. Mas ainda não chegou às contas do Estado, leia-se aos ‘militantes do partido do Estado’. É por isso que Passos e Portas falam agora para eles, voltam a prometer-lhes o céu. Ao centro.

 

António Costa tem uma margem de crescimento superior à da coligação, ao centro e à esquerda. E apesar de estar em perda consecutiva nas sondagens, entra com vantagem na última semana. Paradoxalmente, o universo potencial de eleitores é mais difícil de atingir, porque é preciso ter dois discursos, e nem sempre coerentes, para os eleitores que oscilam entre a coligação e o PS, por um lado, e os que estão entre os socialistas e os dois partidos à esquerda, o PCP e o BE, por outro. Por isso, varia entre os consensos e a estabilidade, um valor cativado pela coligação, e um discurso agressivo de rutura tão do agrado dos eleitores comunistas e bloquistas. Mas a verdade é que os votos que vão decidir estão ao centro, o que torna o PS igual à coligação. Mas a cópia é sempre pior do que o original.

 

Os dois blocos têm, no discurso, um ponto em comum: a maioria absoluta, já gasta de tão pedida, já descredibilizada, de tão improvável. Num vale tudo em que, sem resultados, há cenários para todos os gostos, até aquele que antecipa que os vencedores podem perder e passar à oposição. Importa-se de repetir? Esta semana, preparem-se, agarrem-se às cadeiras, a estrada vai estar cheia de solavancos, de toques e choques frontais. Até ao dia 4. Pelo menos.

 

Notas:

 

O "dieselgate" é uma vergonha para a VW, mas é muito mais do que isso. É uma vergonha para a indústria automóvel (só a VW é que usou estes esquemas para esconder o real impacto das emissões poluentes?), é uma vergonha para a Alemanha que dá lições de exigência aos outros países europeus, é uma vergonha para a Europa que dá lições de moral ambiental e de concorrência ao resto do mundo. O "dieselgate" ainda só agora começou, está quase tudo por decidir, e pode acompanhar aqui, no Sapo24 todas as últimas notícias. Fica, desde já, uma pergunta: é agora que os carros elétricos vão ter mesmo uma oportunidade?

 

O Barcelona vai deixar de jogar na liga espanhola? Não, ou melhor, ainda não. Os catalães foram ontem a votos, escolheram um novo parlamento, mas na verdade estavam a fazer um plebiscito à independência em relação a Espanha. E o resultado não foi muito clarificador. Os defensores da independência, entre moderados e radicais, estarão em maioria no parlamento catalão. Mas a Catalunha está dividida ao meio. Porquê? Porque os independentistas ganharam mais lugares, mas tiveram menos votos. E as eleições em Espanha são já em Novembro, por isso, os partidos do poder vão ter de apresentar uma solução para estes resultados, para a Catalunha e para o país que querem unido. Porque o vento não pode ser travado com os dedos. Pode ler no Público, e com destaque no Sapo24, os desenvolvimentos desta eleição.

 

Na próxima segunda-feira, aqui estarei outra vez no Sapo24. Com os resultados das legislativas, sim, veremos se com um novo governo.

publicado às 10:21

Diz que vai ser uma campanha eleitoral

Por: António Costa

 

Teme-se o pior nesta campanha eleitoral até ao próximo dia 4 de Outubro, e à medida que os dias correm, surgem ideias estapafúrdias e dos partidos que, necessariamente, farão parte do próximo Governo, qualquer que venha a ser o figurino. Querem um exemplo? Se os lesados do BES já faziam parte dos escombros da criação ‘artificial’ do Novo Banco a partir de uma decisão errada e precipitada do governador do Banco de Portugal com o apoio explícito do Governo, agora também são instrumento de combate partidário.

 

Os lesados do BES foram induzidos em erro, criaram-lhes expectativas que, depois, foram defraudadas, mas isto já se sabe há um ano. O que estava guardado para lhes ser pago nas contas do BES, as famosas provisões, desapareceu nas contas do novo Banco – ou melhor, foi utilizado para outras emergências.

 

Quando Carlos Costa decidiu a resolução do BES, no início de Agosto, assumiu prioridades, e os lesados não estavam entre elas. É claro que a confirmação – expectável – do falhanço da venda do Novo Banco em plena pré-campanha só poderia ter maus resultados. Por todas as razões.

 

Em primeiro lugar, confirma que a resolução do BES foi um erro, que custou 4,9 mi milhões de euros, 3,9 mil milhões dos quais dinheiro dos contribuintes com a promessa de que será pago pelos bancos ao longo dos próximos 40 (!) anos. E, não, a alternativa não era entre nacionalização, como a do BPN, e a resolução, do Novo Banco. Havia uma terceira via, que o BCE e o Governo não quiserem seguir. Por razões diferentes. Azar. O nosso. E dos lesados do BES.

 

Como é que Pedro Passos Coelho e António Costa estão a responder ao caso-BES e ao problema dos lesados? Da pior forma, entre o patético e o irresponsável. O primeiro-ministro deu asas à sua veia criativa e, talvez incentivado pelo ambiente de campanha, sugeriu aos lesados do BES o lançamento de uma subscrição pública – ao estilo operação-coração lançada há uns anos pelo Benfica – para apoiar os que não têm condições económicas de aceder à justiça. Importa-se de repetir!? Então, é o próprio primeiro-ministro a reconhecer que não foi capaz de por a justiça ao serviço de todos, sobretudo daqueles que não têm condições económicas.

 

O líder do PS, por seu lado, garante que vai por o Estado a pagar o que os lesados do BES reclamam, um valor na ordem dos 600 milhões de euros, mais ou menos o que o Governo se comprometeu a cortar em pensões junto de Bruxelas e que António Costa diz não ser necessário cortar. Importa-se de repetir!? Portanto, um governo PS vai usar dinheiro dos contribuintes para substituir-se às responsabilidades do Novo Banco – entretanto desaparecidas por obra e graça... de Carlos Costa – e já agora da Justiça, que terá de ser chamada a este tema, mais tarde ou mais cedo.

 

E sobre o dia seguinte do Novo Banco ao anúncio de que não será vendido, só à espera das eleições, claro? Nenhum dos dois diz nada de jeito, que tranquilize. Apesar de estar em causa um banco que, na verdade, passará rapidamente ao regime de ‘nacionalizado’. Passos remete para Carlos Costa e António Costa remete para Passos Coelho e para Carlos Costa. Não há gestão, por melhor que seja, e a de Eduardo Stock da Cunha tem sido das boas, que resista a esta incerteza. Pois, havia quem esperasse uma campanha de mal a melhor, mas infelizmente, caminhamos de mal a pior.

 

O que não pode perder?

A tragédia dos refugiados atingiu um novo patamar, que põe em causa a própria Europa e a sua organização política. Como não há resposta integradas, cada país gere como sabe e pode, até não poder mais. Foi o caso da Alemanha. Pode ler no Diário Económico de hoje, com link direto aqui no Sapo24, a decisão de Angela Merkel de suspender unilateralmente o espaço Schengen de livre circulação de pessoas. E isto ainda só agora começou.

 

Porque o país e o mundo não são feitos apenas de más notícias – felizmente -, vale a pena ler o ranking internacional do Financial Times sobre as melhores escolas de gestão. E Portugal não está mal, tem dois mestrados entre os 250 melhores do mundo, os da Nova e Católica. Aí está uma pergunta a que Pedro Passos Coelho e António Costa deveriam dar resposta: o que se propõem fazer para duplicarmos, numa legislatura, a presença de escolas portuguesas neste ranking?

 

Hoje ficámos por aqui, para a semana regresso aqui ao Sapo24. Tenha uma boa semana.

publicado às 10:41

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